Antonio Luiz 18/03/2010
Mas se não os temos, como sabê-los?
Era o ano de 1851, quando a esposa desse escritor de 47 anos viajou com as filhas por três semanas, para visitar parentes. Contando apenas com o apoio logístico da cozinheira e caseira Mrs. Peters, Nathaniel Hawthorne, um dos pais fundadores da literatura estadunidense, teve de responder pelos cuidados pessoais e atenção demandadas pelo filho Julian, de cinco anos. É o que conta o excerto de seus diários publicado como "Vinte dias com Julian & Coelhinho, por papai".
Pais que lutam em vão para produzir uma tese ou qualquer coisa inteligente em condições semelhantes vão se identificar com o autor que se queixa de não conseguir escrever, ler e pensar. Mas invejarão sua capacidade de relatar isso com tanta sensibilidade e franqueza, a cobrir todas as gradações da perplexidade e da irritação, do desespero e da ternura, sob a mais trivial das rotinas.
Para se consolarem, bastará constatar que esse pai gentil e carinhoso alternou momentos de aborrecimento e divertimento, de raiva e de amor apaixonado pelo filho. Ao lê-lo, pais (e mães) assediados por intermináveis apelos e perguntas infantis poderão apreciar melhor a chance de apreciar as alegrias e mistérios da infância e sentir menos culpa ao ter de conter o impulso de afastar essa oportunidade a palmadas. Hawthorne entenderia.