Márcia Regina 23/03/2010
"Obras-primas do conto alemão"
Gostei da maneira como o organizador utilizou a visão que o homem possui de si mesmo para servir de linha de fundo dos textos escolhidos. Isso me permitiu acompanhar a alteração dessa imagem na primeira metade do século XX, de forma gradativa no período pré-guerra e, de forma mais drástica, durante e nos primeiros anos pós-guerra.
Não foi apenas morte, dor, desespero, foi instalada a descrença. O homem não teve mais como confiar em si mesmo.
O primeiro e o último conto são primorosos, ambos tristes, mas completamente distintos. No primeiro, “O violino de Cremona”, a dor vem carregada de um romantismo ingênuo (complexo, não se enganem) e termina em descoberta, percepção e crescimento. No último, “Minha é a vingança”, o que resta é um porto vazio; mais do que o retrato da solidão, é o retrato dos nossos limites e da nossa incapacidade.
Entre os dois, outros textos que são verdadeiras pérolas, descrevendo pessoas, situações e valores. A linguagem, em alguns momentos, raros, é cansativa, mas torna-se secundária pela força dos personagens apresentados.
Nos contos iniciais, temos o amor como ente de redenção; já “Alimek e o Derviche” nos fala da inutilidade da ambição, poder, dinheiro, tudo é vaidade, inclusive o afã por saber; “Dívida tardiamente paga” me tocou fundo, lembrou a importância de termos claro quem é o adulto, de quem é a obrigação de proteger e quem precisa ser protegido; “O besouro dourado” é quase iluminação, como se ainda tivéssemos alguma chance, como se ainda fosse possível, é lindo; “Cara de fome” nos chama de volta à realidade; e “Minha é a vingança” mostra a dor, a culpa, o vazio.
Falhamos, falhamos...