Resenhas - Mona Lisa Overdrive

Clio0 20/07/2022

O último volume da trilogia Sprawl é o mais polêmico justamente por ser aquele que mais inova no estilo, pois o autor embora ainda carregue pesado na ficção científica, começa a se valer de enigmas. Esse tipo de tática narrativa começou a se popularizar na década de oitenta, justamente quando Gibson escrevia a obra, e os famosos rpgs (jogos interpretativos de estratégia e enimas) chegavam ao seu auge.

Similar às campanhas dos jogos, temos um grupo de personagens com motivações complexas - e nem sempre claras - que conduzem a narrativa, mas que são eventualmente descartados se seus papéis no desenvolvimento da trama já terminaram. Isso pode ser um tanto broxante para aqueles que preferem narrativas fechadas ou não estão acostumados com capítulos divididos por pontos-de-vista.

Tudo isso permite que a Inteligência Artificial, tida como tema principal na série, conduza a história. Para aqueles mais interessados no gênero, é possível encontrar as referências que várias obras modernas fazem (como a Matrix) e outros assuntos que não deixaram de ser pertinazes: a Deepweb, Snuff, o Avatar.

Esse último merece um comentário a parte. Gibson retoma tanto o conceito dos jogos de rpg quanto do "alter ego" já utilizado na internet na época para mostrar o que seria equivalente no mundo real. O resultado é uma mistura esquizofrênica de teorias da conspiração e questões filosóficas abrangendo a noção de ser e existência.

Alguns personagens dos livros anteriores reaparecem e alguns pontos continuam. Os conglomerados mafiosos permanecem controlando o mundo, e a subcultura dos integrantes da Matrix ainda se confundem com joguetes e/ou anarquistas.

Enfim, Mona Lisa Overdrive se destaca pela riqueza de propostas fornecidas pelo autor, porém sua densidade é o que pode justamente afastar o leitor não habituado. É possível lê-la individualmente, porém isso pode fazer com que uma leitura complexa se transforme num trabalho hercúleo.

Brujo 22/08/2021

Despedida do Sprawl
E terminando a trilogia do Sprawl, nós temos este Mona Lisa Overdrive, que nos mostra o que aconteceu com alguns dos personagens que já conhecemos e outros completamente novos. E não espere respostas fáceis de Gibson para essa história. Alguns reclamam (com razão) que Neuromancer possui uma condução confusa, mas este terceiro livro é uma espécie de quebra cabeças , onde se é necessário juntar as peças para entender a história, sendo que algumas dessas peças se perderam e você vai precisar entender o que tem ali pelas peças em volta, pelo contexto.
Bom, seguindo o exemplo do livro anterior, aqui temos a visão de personagens diferentes que vão acabar se encontrando no final da narrativa. São eles:
Kumiko Yanaka: filha de um chefão da Yakuza. A máfia japonesa está em guerra e por isso Kumiko é enviada à Inglaterra para ficar sob os cuidados de um associado de seu pai, o mafioso Roger Swain. Ela vai acompanhada de uma unidade olográfica/IA chamada Colin, que é uma espécie de guia que só ela pode ver. Kumiko conhece na Inglaterra Sally Chears, que é a identidade atual da nossa querida Molly Millions;
Slick Henry: um ex-presidiário traumatizado pelos tratamentos químicos que sofreu enquanto cumpria pena, possui lapsos de memória e uma obsessão por construir, como um artista. Mas os objetos de sua arte são robôs. Mora em um galpão abandonado em uma região inóspita chamado A Fábrica, com seus amigos Bird e Gentry. Certo dia, recebe de um outro amigo para quem devia um favor a incumbência de cuidar de um sujeito em uma espécie de coma induzido e conectado a um aparelho que mais tarde descobrimos se chamar Aleph, aparentemente muito valioso. O rapaz em coma tem uma enfermeira que faz todos os cuidados do corpo. Quem é o rapaz ? Trata-se de Bob Newmark, o Cout Zero;
Angie Mitchell: a personagem volta do livro anterior. Agora ela é uma estrela do Stim, se recuperando de problemas com drogas, que passaram a bloquear seu contato com os Loas. Além disso, ela ressente-se do desaparecimento de seu namorado, nosso também conhecido Bob Newmark.
Mona Lisa: uma garota de programa que se parece fisicamente com Angie. Muito inocente apesar de tudo, se vê envolvida em um esquema perigoso e começa a pressentir que sua vida corre risco.
Basicamente o contexto é esse. Eu gostei do livro, mas achei que faltam peças demais do quebra cabeça, principalmente no que diz respeito à motivação de alguns personagens. Na minha opinião, esse livro poderia ter mais algumas páginas para desenvolver estes 4 personagens. Exemplos: o desenvolvimento do trauma causado pelo suicídio da mãe de Kumiko, o passado de Slick e seu dom, a relação de Angie com Mama Brigitte e com a IA chamada de Continuidade, as motivações da principal antagonista, Lady 3Jane... E por aí vai.
Em suma, o mundo criado por Gibson é espetacular, mas merecia ser mais bem desenvolvido.

Deco 21/01/2024

Fim da trilogia
Finalmente compreendemos o que ocorre com as inteligências artificiais soltas no primeiro livro.

A historia é boa, o enredo é bom, mas a escrita de gibson continua sendo bastante confusa, apesar de ter melhorado em relação ao primeiro livro.

Weber 23/03/2011

Um bom final para a trilogia, mas poderia ser melhor.
Atenção, alguns trechos deste texto pode ser considerado spoiler.
O livro é muito bom e flui muito bem. Achei melhor do que o segundo livro da trilogia. O livro apresenta alguns erros de tipografia evidenciando uma revisão não muito atenta, mas que não prejudica muito já que a maioria são evidentes e não prejudicam o entendimento.
O grande problema foi a falta de um desfecho satisfatório. Problema de muitos autores que criam várias situações e questões mas não sabem responder a estas questões. Exemplo disso é o trecho, na última página se não me engano, onde é dito que é difícil explicar porquê houve a divisão da IA em diversas IA menores (os loas). Para mim isto era um ponto que deveria ser respondido. Chegamos ao fim sem saber o que aconteceu antes e qual o objetivo de tudo que aconteceu neste livro. Foi tudo para que as IA se juntassem novamente? Não ficou claro para mim se isso ocorreu.
Em algumas obras as respostas podem ser deixadas a cargo da interpretação do leitor, em outras não. Mona Lisa Overdrive é o segundo caso mas vale a pena pelo universo criado por Gibson e pela imersão neste universo. Se o final decepciona um pouco, a jornada com certeza não.

Wagner47 11/08/2021

Há mortes e mortes
Novamente com várias frentes, Gibson dessa vez não distribui uma missão específica para cada protagonista logo de cara. Vão surgindo interesses para no fim haver o colapso.

O que esse livro sai em vantagem do anterior (por um gosto estritamente pessoal) é que os desdobramentos são bem nítidos e vamos vendo aos poucos como cada personagem se relaciona a outro. Porém ao mesmo tempo é vago demais, sendo a mesma sensação que tive com o final. É tão existencial que fiquei bem avoado e perdidinho.

Alguns personagens carecem de desenvolvimento também, como Slick Henry. Ele tem um passado tão difícil que foi abordado de uma forma bem rasa

Enfim, para mim foi um livro que quis colocar muita coisa, porém acabou apenas pincelando os personagens para favorecer os acontecimentos.

Recomendo fortemente que Neuromancer e Count Zero sejam lidos antes. Não acredito que ele funcione sozinho como seu antecessor.

Daniel Andrade 15/03/2022

Uma boa conclusão
Sinto que esse foi o melhor livro da trilogia. Todos os personagens aqui são interessantes, em especial a Kumiko e a Mona. Em alguns momentos a narrativa fica extremamente confusa pela quantidade de termos específicos que a história possui, mas o glossário ajuda a resolver. Acho que se possuísse mais 50 páginas para aprofundar, teria dado mais meia estrela.

Nimrod 21/12/2021

Encerramento digno para trilogia Sprawl.
A narrativa do livro segue a mesma linha do antecessor, contando a história de quatro personagens de maneira simultânea e que se intercalam. O que é perfeito. O grande diferencial que a vemos aqui é o ritmo da história. Não é aquela ação que havia no segundo, mas algo mais investigativo que instiga o leitor através da curiosidades por meio de grandes mistérios que ao meu ver funcionam com maestria. Principalmente como pólvora para cenas mais de ação.

O principal é a conclusão e nostalgia de personagens antecessores dos livros que até então não sabíamos um final certo. Mona lisa Overdrive não supera o antecessor mas mantém o padrão de qualidade alto.

Alexandre 07/09/2021

MONA LISA OVERDRIVE
"swiz" overdrive

Na minha opinião é o melhor da série, mas não deixa de ser complexo ao mesmo tempo. Foi uma coleção que tive dificuldade em terminar. Eu comprei a coleção toda de uma vez e caso tivesse comprado somente o primeiro, talvez não fosse continuar. Mas o autor é muito inteligente e os cenários e tecnologias são bem complexas e inovadoras.

Nota 4

Hollyson 22/08/2021

O fim da Trilogia do Sprawl. Assim como Count Zero, o livro possui pontos fracos e fortes. Mas ao contrário de Count Zero, a ação no terço final do livro é muito mais intensa, frenética e impressionante. Mas também temos a introdução de vários personagens novos que acaba dando um ritmo mais arrastado para começo do livro. No fim, Mona Lisa Overdrive acaba ser um livro melhor que Count Zero tanto pela ação quanto pela volta de personagens tão amados... Mas ainda assim, não supera Neuromancer (um dos melhores livros que já li).

Raquel 05/03/2011

Quando li Neuromancer, lá em 2005, achei tão bom que li novamente em seguida. Eu nunca tinha feito isso com nenhum outro livro!!! Tinha muitas expectativas sobre as continuações....
Mona Lisa Overdrive não me decepcionou! Achei a historia muito boa, mantém bem o ritmo frenético nas 4 historias paralelas até um final surpreendente. Alguns pontos ficaram um pouco nebulosos, mas isso não me decepcionou.
Obvio, que adorei a volta da Molly, meu personagem favorito em Neuromancer!
Altamente recomendado pra quem gosta de ficção-cientifica.

Campos 27/02/2022

Gostei
A trilogia, para mim foi arrastada nós dois primeiros volumes, mas nesse ela fluiu bem melhor, com uma trama mais interessante e fácil de entender

baby targaryen 24/02/2023

Mona Lisa Overdrive
Foi o livro mais rápido que li dessa trilogia, o mais fácil também. É preciso compreender que o Gibson não esperava ter uma continuação para Neuromancer. Porém ele fez acontecer e deu muito certo, é nítida a evolução da escrita, a evolução dos personagens em cada livro. Eu gostei muito dessa trilogia, com certeza merece uma releitura.
[Spoiler]
Fiquei muito feliz com a aparição da Molly nesse volume e a menção ao Case.

Diego 29/10/2011

Fim da trilogia
Diferente dos outros dois livros, que só tem um pano de fundo comum, este terceiro livro não será entendido se for lido avulso, pois o grande peso da história está na trama dos Tessier-Ashpol. Mollie, a ninja com lentes implantadas no rosto do Neuromancer é contratada para sequestrar a Angie Michel, a menina que foi salva no Count Zero.

Há 4 linhas narrativas:

Kumiko, menina japonesa filha de um chefão da Yakusa, devido a uma guerra dos clãs da zaibatsu em Tóquio, seu pai lhe envia para Londres onde ela fica hospedada na mesma casa onde está Mollie, agora chamada de Sally. Kumiko tem um pequeno console de ajuda a turistas que contém uma IA que só se materializa para ela, lhe ensinando o que é cada ponto turístico, lhe ajudando a compreender os hábitos ingleses, etc. Sally leva a menina para passear pelo submundo londrino e envolve a menina em conspirações contra seu anfitrião. A menina usa sua IA para escutar as conversas na casa onde estão e é retirada por Sally e levada para o Sprawl, onde encontram um constructo do Finlandês, que virou uma espécie de oráculo, nesta conversa com Finlandês fica evidente o constructo de 3Jane, a Tessier-Ashpol, contratou a Molly para sequestrar Angelie Michel, colocando uma sósia em seu lugar e simulando sua morte, mas que 3Jane deve ter exigido que fosse ela que realizasse o serviço por conta do que aconteceu 18 anos antes, em Neuromancer, quando as IAs foram unificadas.

A segunda linha narrativa está baseada em outro personagem secundário, Slick. Ele é um ex-presidiário, que ficou com uma espécie de trauma, pois tinha a memória apagada a cada 5 minutos durante sua pena, como "terapia" ele esculpe grandes esculturas-máquinas que representam figuras do mundo judiciário, ele está em uma espécie de deserto químico, um antigo aterro sanitário que contém uma fábrica abandonada, com ele na fábrica mora um moleque e Gentry, um cara com jeitão de cowboy das antigas e que mantém a energia ligada por conseguir burlar o sistema da distribuidora de eletricidade. Conde, o Count Zero, será trazido plugado a um equipamento estranho, ele fica o tempo todo em REM e está conectado a uma espécie de matrix, o Aleph e pagou para não ser tirado desta viagem, junto com ele chega uma enfermeira que o mantém vivo. Gibson tem um estilo que vai misturando várias coisas importantes da história com pensamentos destes personagens desimportantes, Kumiko fica lembrando do suicídio da mãe, Slick do seu tempo de prisão, etc. Gentry fica alucinado com o Aleph, explica que aquilo é uma espécie de mundo a parte da matrix, mas com uma capacidade quase infinita de memória, podendo abricar muita informação em seu interior, Slick e Gentry começam a se plugar no Aleph, encontram Conde, que lhes diz estar sendo procurado e se for encontrado Aleph deve ser plugado na rede, encontram também o constructo de 3Jane e descobrem que Count está tentando descobrir através daquele sonho maluco de 3Jane, que é a matrix do Aleph, quando é que tudo começou, ou seja, quando e porque os Loas, entidades virtuais do vudu, apareceram na rede.


A terceira história é baseada em Angel Michel, ela se tornou a principal estrela do sinstim, uma espécie de cinema sensorial, os loas lhe ajudaram a chegar até aí, porém, ela começou a usar uma droga e começa a história se desintoxicando, aos poucos é revelado que a droga de alguma forma afetou os circuitos que seu pai lhe deixou no cérebro e ela perdeu a capacidade de se comunicar com quase todos os loas, menos uma, ela não sabe para onde Bobby, o Conde foi, eles eram namorados, mas pouco antes dela ser internada ele foi embora. Ela deseja voltar a gravar e toda a equipe se reune com ela, porém menos um, seu par romântico que continua em Londres.

A quarta história é baseada em Mona, uma prostituta de 16 anos, que é viciada em wiz, uma droga sintética e vive dando suas viagens, por isso o título do livro, overdrive de wiz, monalisa overdrive. Seu cafetão é um cara que está buscando um grande esquema, lhe bate cada vez que ela diz que não gosta do local asqueroso onde eles moram, porém um dia a coisa é diferente, ele diz que vão pegar um jato e ir para Nova Iorque porque alguém finalmente reconheceu seu talento e ele até mesmo conseguiu que ela fosse levada junto. Mona é parecida com Angie e seu cadáver será deixado para simular a morte da atriz. Seu cafetão é eliminado e ela é levada para um clínica plástica, onde seu corpo é modificado para ficar igual ao de Angie, Mollie vai até lá, detona o mediador e pega a menina.

As histórias começam a se cruzar, Mollie percebendo que 3Jane quer alguma espécie de vingança, antecipa o sequestro de Angie em uma semana, depois vai para a Fábrica, onde está acontecendo uma guerra, pois uns sujeitos querem pegar o Aleph. E resumindo a história, a IA de Kumiko derrota momentaneamente 3Jane quando sua matrix está conectada na rede, Conde morreu, mas virou uma espécie de constructo no Aleph, Angie idem, na realidade ela se funde com Continuidade, uma outra espécie de IA, baseada nos biosofts construídos de acordo com as especificações da IA dos Tessier-Ashpolls. O Aleph é deixado plugado na bateria e a explicação final é que no final de Neuromancer, quando a nova IA descobriu um outro ser sensiente em Centauro, se fragmentou em vários pedaços e quando todos forem para Alpha de Centauro, tudo será explicado. Mona sobrevive e fica no lugar de Angie, Mollie vira sócia de um cassino, Kumiko volta para Tóquio e Slick fica com a enfermeira.

Guilherme.Alves 11/11/2021

Esse livro segue a ideia de Count Zero em que a história de vários personagens, em algum momento, se converge para uma coisa só.

O autor foca muito na descrição dos cenários, o que eu entendo perfeitamente pois ele quer que tenhamos a exata ideia do que seria essa sociedade futurística cyberpunk, mas pra mim isso em alguns momentos foi algo chato e repetitivo...

No geral não consegui pegar tudo que aconteceu nessa história, muito por isso continuo achando Count Zero o melhor da trilogia. Mas queria dizer também que o retorno de alguns personagens, inclusive da Molly, foi algo muito positivo.