Mariana 04/08/2021
Fui pega de surpresa
Quando eu peguei esse livro para começar a ler fiquei um pouco preocupada, imaginei que provavelmente teria problemas para terminá-lo justamente pela temática abordada. Mas ainda fico surpresa em pensar em como me senti envolvida pela história escrita nessa livro e também sobre o que acontecia no Brasil quando ele foi lançado.
Tudo começa numa fazenda do Rio de Janeiro, onde Isaura mora. Por ser filha de uma mulher escravizada, ela acaba ficando presa naquele lugar como “propriedade” do dono da fazenda, que por sinal foi o grande causador da morte da mãe de Isaura, já que ele descobriu o romance dela com o feitor Miguel. Vale ressaltar que o comendador só tem essa implicância toda com a mãe de Isaura pois ela foi forte a se recusar aceitar que ele a abusasse.
Lembro que fiquei horrorizada de como a mulher do comendador vê Isaura recém nascida como um presente de deus para ela, isso foi logo depois que o marido mandou castigarem a mãe de Isaura causando sua morte. Ela simplesmente pega a menina e começa a tratá-la como uma “filha” que nunca tivera, dando-lhe oportunidades de aprender diversas coisas, mas nunca lhe dando a liberdade pois a queria para lhe fazer companhia em sua velhice.
O filho do casal, Leôncio, é um homem cruel. Em diversos momentos ele tenta “conquistar” Isaura, afirmando diversas vezes que ela fez ele sentir algo que nunca havia sentido antes. Aliás, todos os personagens masculinos se sentem assim por Isaura, que se ela aceitasse o amor deles eles poderiam lhe dar a liberdade.
Graças aos esforços de Miguel, eles fogem para Recife e tentam viver no anonimato, é óbvio que lá também teria outro personagem para se apaixonar pela Isaura: o Álvaro, moço bom, rico e abolicionista.
Acontecem mais algumas coisas, mas o mais importante que eu preciso destacar aqui é a época em que esse livro foi escrito: 1875. No Brasil já vinha acontecendo campanhas abolicionistas e apesar de no livro não ter abordado muito a respeito disso, fica claro que o grande herói da história era um abolicionista e que provavelmente deve ter gerado polêmica na época da publicação. Talvez seja por isso que a Isaura no livro tem a pele branca, para que as pessoas tivessem curiosidade em ler.
Não posso negar que tem muitas falas e situações desagradáveis, como a quantidade de vezes que a beleza de Isaura é ressaltada constantemente e em seguida sempre afirmavam que por isso ela deveria ser liberta, e como sempre falam o quanto ela teve sorte por ter aquele tom de pele, o que de fato faz a gente pensar que tudo que Isaura teve a oportunidade de ter provavelmente foi por ela ter a pele branca.
Alguns termos racistas, como “mulata”, sempre apareciam principalmente na hora de falar sobre a mãe de Isaura, o que era desconfortável. Obviamente teve muitos outros que não colocarei aqui. Falas da Malvina, do André, e de muitos outros que me deixarem indignada e inquieta.
Gostei do livro por me transportar para um Brasil que existiu anos atrás, me lembrando que a humanidade sempre foi desagradável como até hoje é. Acho uma leitura válida para quem se interessa pela literatura nacional, mas é necessário levar em conta que aborda um acontecimento real e que foi escrito numa época onde o abolicionismo ainda estava ganhando forças. Não podemos cobrar um posicionamento igual ao nosso, já que vivemos em épocas diferentes. Devemos cobrar de pessoas que vivem no atual Brasil, que elas aprendam a não repetir os erros de um passado desumano e cruel.
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