Febre de bola

Febre de bola Nick Hornby




Resenhas - Febre de Bola


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Gabriel 16/07/2018

"Febre de bola" é uma obra que prende o leitor do início ao fim. Mesmo o sujeito mais apático ao futebol, ao fim da leitura, deve fazer um gesto de reverência ao Hornby e se prostrar diante da arrebatadora emoção exposta nas páginas apaixonadamente redigidas.

Como um torcedor fanático, Nick Hornby disseca o que talvez seja o elemento fundamental do futebol: a torcida. Através de crônicas e ensaios divertidos, com um teor levemente sarcástico, somos levados a conhecer as raízes do futebol inglês nas décadas de 60, 70, 80 etc. A memória invejável de um torcedor que acompanhou seu clube em diversos momentos, ruins e não tão ruins -- já que fica evidente no decorrer da obra que, assim como na vida, os bons momentos são intervalos curtos entre um sofrimento e outro -- nos é exposta aqui numa espécie de autobiografia do próprio autor, mas que certamente também se confunde com a nossa própria vida de torcedor.

Ao fim de tudo, pode-se questionar se a obra versa sobre futebol ou sobre o homem como torcedor, ou ainda sobre as vivências particulares do Hornby. A resposta que eu encontrei foi que esta obra não é senão um raio-x do torcedor, seja do Arsenal, Tottenham, Bahia, Vitória, Flamengo ou Fluminense.
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Babi.Dias 22/02/2018

Se você gosta de futebol, é impossível ler e não se identificar com cada página.
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Mauricio.Barutti 27/12/2016

Muito legal!
Nick Hornby, autor de "Alta Fidelidade", traça um paralelo entre sua vida pessoal e o desempenho do seu time de futebol, o londrino Arsenal. Fantástica ideia!! Acho que farei isso com minha vida e o São Paulo FC. O que mais chamou atenção: 1) como o futebol brasileiro está atrasado, pois vive hoje dilemas que eles passaram há mais de 20 anos; 2) como O FUTEBOL IMITA A VIDA... no fundo ambos se resumem a raros momentos gloriosos em um mar muito maior de marasmo e grandes frustrações. Aproveitemos MUITO BEM os raros momentos gloriosos.
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Marina 09/03/2016

Quando eu adquiri este livro já tinha a impressão de que não iria gostar. Afinal, eu não gosto e nem entendo nada de futebol, muito menos de futebol inglês, e no livro o autor conta a vida dele como um torcedor obcecado pelo Arsenal.
Eu só tinha resolvido comprar este título porque era a única coisa dele que eu ainda não tinha lido. E também pensei que por mais que o livro fosse de futebol, ele poderia dar um vislumbre sobre a vida do autor. Além disso os textos dele costumam ser bem engraçados, então achei que poderia ser uma leitura divertida.
Bem, sim, ele conta um pouco da vida dele, mas quase nada. Porque absolutamente tudo gira em torno do futebol, de quando ele ia aos estádios quando era garoto, como que o esporte mudou a relação dele com o pai, etc. E a narrativa até tem uns pontos divertidos, mas não dá pra entender 90% das piadas, com as milhares de referências a jogadores e times ingleses de anos atrás.
Enfim, logo no começo já deu pra perceber que, mesmo sendo fã do autor, ia ser desgastante pra mim, e sofri muito pra ler 50 páginas, então resolvi desistir!
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Marcelo 04/08/2015

Isso, meu amigo, é futebol!
OBSESSÃO. É a palavra que rege o romance de estréia de Nick Hornby (um romance publicado já há bons vinte anos). Mas não qualquer obsessão. Estamos falando de um sentimento que nem Freud explicaria (até porque, nos tempos do pai da psicanálise ainda não se tinha criado este jogo tão cultuado, em que vinte e dois homens adultos perseguem o objeto esférico com tanta volúpia quanto provavelmente se perseguiria a deusa do amor e da beleza). Um sentimento que consome sem que se possa refrear; que faz sofrer, vibrar e chorar, de uma forma quase irracional. É claro que estamos falando da paixão absurda de um torcedor pelo seu time do coração.

E um dos pontos mais reverenciáveis na obra é que, mesmo que você não conheça o time de que Hornby tanto fala (algo praticamente impossível, já que o Arsenal F.C. é um dos clubes mais importantes do futebol inglês), todo mundo é capaz de se identificar, ou identificar algum torcedor fanático que conheça, na pessoa do Nick.

Quantas passagens do livro eu li, recordando meus próprios tormentos, sofridos nas arquibancadas e também diante da TV, a cada vez que o meu time batia na trave de um campeonato, ou desperdiçava as chances da conquista de um título? E quantas vezes também recordei as alegrias sem par compartilhadas com um bando de loucos, tão loucos quanto eu...

Nick é aquele tipo de torcedor que não se conforma em apenas torcer sentadinho no sofá da sala, acompanhando os jogos diante da TV, ou com o ouvido grudado no rádio. Ele tinha uma necessidade patológica de assistir ao vivo, diante do grande palco, de adentrar religiosamente todos os fins de semana a sagrada catedral do futebol no norte de Londres, e se misturar aos outros fiéis, torcedores tão fanáticos ou mais do que ele, para que sua voz também se misturasse ao barulho da torcida.

E quem já esteve num estádio de futebol sabe a agonia que dá ver a bola se aproximando da área do seu time, grudada nos pés de um atacante que não tem outra intenção, senão fuzilar as redes e deixar seu goleiro prostrado. E também a alegria incomparável de poder ver de perto aquela mesma esfera bendita inflar as redes do time adversário, e deixar o grito irromper pela garganta, misturado a milhares de vozes clamando como uma só!

E nessa hora não importa se você nunca conheceu o cidadão que está do seu lado, o rico e o pobre, o branco e o negro, o velho e o menino são perfeitamente capazes de trocar um abraço eufórico sem ao menos ver o rosto da pessoa com quem compartilha essa explosão de alegria.

Porque o futebol iguala os homens, torna todos reféns de uma mesma obsessão. Não importa se você torce para o time A e eu para o time B, porque na hora que o apito soar, a bola vai rolar, e a sua agonia ou a minha alegria serão exatamente iguais; dependendo de qual rede ela escolha balançar.
Luciano Carrenho 27/03/2017minha estante
Marcelo,parabéns! Excelente resenha!


Marcelo 16/07/2017minha estante
Valeu!




TatáVasconcelos 04/08/2015

Paixão Pra Vida Inteira
Tudo começou numa tarde em 1968. Não houve flerte prolongado. Apenas uma contemplação profunda, um interesse cativante, a agonia de um segundo; apenas isso bastou para nascer uma genuína paixão no coração daquele garoto de onze anos.

Foi seu pai quem os apresentou. Ele relutou, mas não demorou muito, teve que ceder. Não é atrevimento nenhum dizer que foi o sofrimento que os uniu, embora aquela agonia guardasse em si uma miríade de alegrias fortuitas e orgulho apaixonado.

A partir daquela tarde de 1968, sua vida foi irrevogavelmente mudada. Ele nunca mais conseguiu deixar de pensar em sua paixão. Remoía cada momento, cada lance, cada detalhe de cada encontro por horas, sentindo-se intimimamente abobalhado. E mesmo depois de décadas de sofrimento – mais sofrimento que alegrias, verdade seja dita – a paixão permaneceu como no primeiro dia.

Parece que estou narrando uma história de amor, não é mesmo? Bem, de fato. Mas não é o amor comum de um homem por uma mulher; este é o amor apaixonado de um torcedor pelo seu time do coração.

A primeira coisa que me cativou nesse livro foi que ele era sobre paixão; a mais doentia, sofredora e inexplicável de todas: a paixão pelo futebol. A segunda coisa que me cativou, foi que o livro era narrado do ponto de vista do torcedor apaixonado, dentre todos os times do mundo, justamente pelo Arsenal, da Inglaterra! (Clube pelo qual tenho profunda simpatia há quase meia década!)

A primeira citação de grande relevância, ainda na introdução comemorativa às duas décadas do livro (que foi publicado originalmente em 1992), foi a um jogo disputado em 2011: a final da Copa da Inglaterra, em Wembley, contra o Birmingham City, ao qual eu assisti na época num canal a cabo, e do qual me lembrei imediatamente à citação do único gol do Arsenal na partida – o gol de empate (se minha memória não falha, num voleio espetacular!) marcado por Robin van Persie.

A identificação da partida e do jogador – o nome não foi citado no livro – me fez compreender também o tom da narrativa: o placar final daquele jogo foi 2x1. Já mencionei que o voleio do holandês foi o único gol do Arsenal na partida, de modo que o significado é autoexplicativo. Aquela história seria o expoente, do ponto de vista de um torcedor obcecado, tanto das glórias ocasionais e emblemáticas, quanto das derrotas mais infelizes e miseráveis. A verdade nua e crua; doa a quem doer. O típico jeito torcedor de ser: ridiculamente eufórico com os bons tempos de vacas gordas, incompreensivelmente tolerante com as fases ruins, incomparavelmente sofredor até o apito final.

A esta identificação imediata seguiu uma infinidade de citações de partidas, lances e gols históricos do clube, numa narrativa fluida, que mescla a trajetória do clube – com todos os seus triunfos e dissabores – com a vida do torcedor que a está narrando, de modo que temos uma dupla biografia em um único livro – o que, sem dúvida, torna a coisa toda muito mais interessante.

Se o livro peca em alguma coisa – narrativamente –, é na pouca informação com relação a passagens trágicas na história do futebol inglês – como a tragédia em Hillsborough durante um jogo entre Liverpool e Newcastle pela semifinal da Copa da Inglaterra, em 1989, muito mencionada, mas pouco informativa no capítulo a ela dedicado. O perdão vem do fato de que este não é um livro jornalístico, nem trata exclusivamente das deficiências na segurança dos estádios ingleses, e provavelmente da prerrogativa do autor de não querer levantar assuntos polêmicos na obra.

Aparte isso, é um livro divertido, engraçado em muitas passagens, histórico do ponto de vista informativo (você tem a divulgação de datas, placares e goleadores de aproximadamente uma centena de jogos disputados pelo Arsenal e outros clubes ingleses, e até mesmo da seleção inglesa ao longo de 25 anos), e extremamente gostoso de ler.

Não simplesmente um livro sobre futebol. Nem somente o relato delirante de um torcedor consciente de sua própria obsessão e maluquice. Febre de Bola, é antes de mais nada, uma história de amor.


site: http://admiravelmundoinventado.blogspot.com.br/2014/08/desafio-7-paixao-pra-vida-inteira.html
Marcelo 04/08/2015minha estante
E depois dizem que mulher não entende o futebol...
Eu tinha planejado escrever uma resenha desse livro, mas vai ser difícil superar a sua definição do que é um torcedor. Sensacional! Parabéns!




Fabio Martins 30/07/2015

Febre de bola
O livro Febre de bola, de Nick Hornby, pode ser considerado uma espécie de “bíblia” do torcedor de futebol. A obra, autobiográfica, é contada desde sua infância até o ano em que foi publicada (1992), e seu fio condutor é inusitado: o Arsenal FC, time de futebol pelo qual torce.

O primeiro encontro entre Hornby e o Arsenal ocorreu quando ainda era garoto. Seu pai, separado de sua mãe, não tinha mais programas para passar o tempo com ele aos fins de semana e resolveu levá-lo ao estádio para ver um jogo do clube. Foi amor à primeira vista, como diz no livro: “Eu me apaixonei pelo futebol como mais tarde viria a me apaixonar pelas mulheres: súbita, inexplicável, incriticavelmente, sem pensar na dor ou nas perturbações que isso me traria”.

A partir desse dia, passou a frequentar Highbury (estádio do Arsenal) praticamente todos os finais de semana. Além disso, quando possível, sempre fez viagens para acompanhar o clube fora de casa. Para ele, os sucessos e os fracassos na vida, têm tudo a ver com a situação em que vive o Arsenal. Se a equipe vai mal, tudo dá errado no seu trabalho e no relacionamento com as mulheres. Se vai bem, sua vida volta a melhorar.

Pra quem é apaixonado por futebol e principalmente por seu time de coração, o livro é fascinante, pois o leitor se identifica rapidamente com os pensamentos, frustrações, angústias e desejos do autor.

“Ah, então o livro é bom só para os fanáticos por futebol”.

Não, não é! Além da ótima narrativa e das visões peculiares do autor, uma pessoa que não gosta de futebol pode entender um pouco mais desse universo estranho onde pessoas fazem as maiores loucuras por causa do seu time de futebol.

Outras resenhas de minha autoria no link lisobreisso.wordpress.com

site: lisobreisso.wordpress.com
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Cheiro de Livro 25/06/2015

Febre de Bola
Nick Hornby é autor que conheço bem mais pelas adaptações de suas obras do que pelos seus livros. É verdade que li “Alta Fidelidade” antes de ver o filme, a ordem foi essa só porque eu tenho uma certa obsessão em ler, de preferência antes de ver, os livros que são transpostos para as telas. Gostei do livro e acho o filme simpático. Mesmo tendo, até hoje, uma boa coleção de discos de vinil e eles estarem muito bem organizados, meu universo musical é muito distante do dele e a empatia não foi completa. Depois disso vi todas as adaptações de seus livros para o cinema e gostei da maioria. Coloquei muitos desses títulos na minha lista de livros a serem lidos, objetivo nunca concretizado.

No Natal ganhei o audiolivro “Febre de Bola” do meu irmão. Foi um presente muito bem vindo. Já havia ouvido e lido bastante coisa boa sobre esse livro e como, por questões médicas, não podia ler a solução era perfeita. Tenho que admitir que demorei uns bons 3 dias para começar a ouvir por puro medo da voz da Soninha. Sério, quem, em sã consciência, quer ouvir mais de 80 horas da Soninha falando? Enfrentei o problema e comecei a ouvir. Todos os meus medos se confirmaram, ela é péssima, falta tudo para que a leitura se torne agradável. O interessante é que fui incapaz de parar a gravação porque o texto é ótimo e te envolve por completo.

“Febre de Bola” é uma reflexão sobre o papel que o futebol e, principalmente, o Arsenal tem na vida de Nick Hornby. Nos primeiros capítulos ele começa a falar sobre como sabe de cor datas, resultados e lances de jogos do Arsenal. Essa capacidade masculina de armazenar dados sobre futebol sempre me surpreende. O inicio da discrição sobre a importância que o Arsenal tem em sua vida e como ele é um torcedor fanático me lembrou uma serie de amigos que tenho. O melhor é que comecei a achar a obsessão dele pelo Arsenal um tanto exagerada e sua fixação por futebol também. Nesse momento me toquei que dias antes de começar ouvir “Febre de Bola” tinha passado as minhas tardes assistindo ao campeonato brasileiro sub-20 e ao mundial interclubes sub-17. Nesse momento caiu a ficha de que a minha obsessão pelo Fluminense tem bem mais pontos em comum com a de Hornby pelo Arsenal do que eu gostaria. Do momento em que aceitei minha condição de torcedora o livro ficou ainda mais prazeroso e nem a voz chata e a entonação horrorosa de Soninha conseguiram estragar.

Acho que para qualquer torcedor que vá a estádios e acompanhe com freqüência seu time pela televisão é impossível não se identificar. A discrição dele da decepção da derrota do Arsenal em finais da taça em Wembley podiam ser transportadas com facilidade para a minha própria decepção na final da Libertadores do Maracanã. Minhas idas e vindas para o estádio são bem menos dramáticas e arriscadas do que as deles, mas não menos memoráveis. Acho que nunca vou esquecer o silêncio apático da torcida tricolor no metrô voltando para casa depois de perder nos pênaltis a Libertadores de 2007.

Há momentos em que ele fala da violência nos estádios ingleses que são mais instrutivos do que empáticos. O livro foi escrito no inicio da década de 90 e certos problemas das torcidas inglesas, posso dizer até européias, continuam os mesmos e o pior deles é o racismo. Sua reclamação sobre o preço dos ingressos poderia ser transportada para o Brasil com facilidade. Fiquei com inveja dele que no inicio da década de 80 podia comprar ingressos para a temporada de seu time, algo que não posso fazer hoje, em 2010.

O começo do livro, quando ele descreve como se ligou ao Arsenal e como o futebol foi e é importante na sua vida para a socialização será melhor entendido por homens do que por mulheres. É uma questão de gênero mesmo. Quando meninos ganham bolas, meninas ganham bonecas e mesmo que você seja levada desde cedo aos estádios ou acompanhe futebol em casa com freqüência na infância, nada se compara a importância do futebol na vida de meninos. Me pegue como exemplo. Sempre acompanhei o Fluminense pela TV, acompanhei com afinco, ouvi jogos no rádio, li com freqüência as noticias no jornal, e sabia e sei identificar os jogadores, mas não era uma freqüentadora de estádio por pura falta de companhia. Quando só em 1999 que fui pela primeira vez ver meu time no Maracanã, um ótimo Fluminense 4 x 2 Vasco pela Taça Rio-São Paulo, que posso dizer que me tornei uma torcedora de verdade. Hornby faz essa distinção entre homens e mulheres e sobre torcedores de estádio e os que ficam em casa com maestria.

Mesmo com essa ressalva de gênero qualquer torcedor se identifica em algum momento com o que Hornby escreve. No momento em que ele diz que seu time é perseguido pela imprensa não pude deixar de lembrar de uma série de amigos que torcem para times diferentes que falam a mesma coisa. “Febre de Bola” mostra que ser torcedor de futebol é igual em qualquer canto. Essa identificação por um clube que faz você sair de casa em qualquer condição climática. Ir a um estádio, muitas vezes desconfortável. Ver um time que, muitas vezes, está jogando um futebol medonho. Passar 90 minutos que trazem, na maioria das vezes, mais sofrimento que alegria é uma sina comum aos amantes desse esporte não importa se na Inglaterra ou no Brasil. E todo esse sacrifício e sofrimento não são vistos dessa forma pelos torcedores, nós vamos por que simplesmente não conseguimos imaginar a possibilidade de não estar lá. Porque no final das contas aquele momento em que em Wembley o Arsenal fez o gol do título, como é relatado no livro, ou, que no meu caso, o Fluminense ganha o título perseguido há 26 anos no Engenhão, compensam qualquer coisa. “Febre de Bola” consegue transpor isso para as páginas com perfeição. É uma experiência maravilhosa que eu preferia ter tido lendo e não ouvindo a Soninha, mas é, sem dúvida, uma experiência indispensável para os amantes de futebol.

site: http://cheirodelivro.com/
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Jim do Pango 09/01/2011

O Turbilhão Nervoso
Em “Febre de bola” encontramos divertidas partículas da experiência universal do futebol. O jogo que domina as mentes de milhões de seguidores e fãs pelo mundo. O esporte que, em larga medida, ignora as fronteiras naturais e, sobretudo, as fronteiras colocadas lá pelo homem. Em todos os continentes as crianças correm atrás da bola e lançam suas bobinadas certeiras enquanto gritam os nomes de seus heróis. A magia, o espetáculo, a paixão do futebol. Tantos são os adjetivos e as fórmulas utilizadas na tentativa de explicar o sentimento “sem nome” do futebol e, máxima ironia, o senhor Nick Hornby, a seu modo, fez isso escrevendo um livro sobre ele mesmo.

Exatamente, conforme um grande amigo afirmou, “Febre de Bola” não é um livro sobre o futebol. “Fever Pitch” é o título original deste livro em que o autor relata momentos de sua vida entre 1968 e 1992, cujo futebol é o pano de fundo das ações. Na verdade, posso dizer que vai um pouco além disso: o futebol para Hornby é muito mais do que um simples cenário, o futebol é a obsessão.

O autor tinha 13 anos de idade quando o mundo da bola se desvelou diante de seus olhos. A separação dos pais e as complicações próprias da aurora da adolescência são os ingredientes que transformaram a sua alma, justo naquela época, em um campo fértil para o florescimento de uma paixão avassaladora, uma fuga, uma obsessão: o futebol.

É curioso notar que quando o pai de Nick o convidou para que fossem assistir a um jogo juntos, ele, com qualquer adolescente que se preze, de pronto recusou. O jovem se considerava totalmente disposto a ir a qualquer lugar com o pai, nas vezes em que ele aparecia para visitá-lo, “com exceção de todos os lugares que ele [o pai] conseguia pensar.” Independente disso, ele se tornou um torcedor do Arsenal, tradicional clube inglês.

No início, só o futebol mantém a relação entre pai e filho, reduzindo as tensões, direcionando e compatibilizando interesses. Sem o futebol, seus encontros seriam apenas os jantares monótonos, sempre no mesmo restaurante, sem assunto para conversar. Depois do futebol, naturalmente, não mais faltou assunto. Todos os amantes do esporte bretão sabem o quão prolífero pode ser o mundo do futebol até mesmo quando a falta de assunto é o principal assunto. Talvez essa última frase necessite de um bom exemplo para ficar mais clara: pensem nos intervalos entre as temporadas e nas pré-temporadas que os times realizam. O que há de interessante para se comentar quando não há jogos do seu time e por toda parte tudo que se ouve são as velhas especulações sobre transferências de jogadores. Nessas épocas estéreis há algum assunto realmente interessante? Sim, para os obsessivos sempre há. Diferente do meu tempo de garoto, quando era necessário esperar a banca de jornais abrir para ler as novidades nas páginas cor-de-rosa do Jornal dos Sports, hoje a informação e a desinformação circulam em tempo real nos 140 caracteres das twittadas relâmpago dos jornalistas e de seus ávidos seguidores virtuais.

Nesse contexto, é fácil identificar-se com o garoto Nick quando, por exemplo, se lê sobre o nervosismo que sentia antes dos jogos, vezes em que “acordava com um turbilhão nervoso no estômago”. Ou em sua estréia no estádio e o sobressalto ao ver tantas pessoas felizes bradando palavrões e impropérios de toda sorte. Assim como o jovem Nick, esse aspecto me impressionou em primeira visita ao estádio. Assim como ele já tinha ouvido todos aqueles palavrões antes, mas não entoados pelos adultos e não naquele volume.

Não poucos saberão precisamente do que Hornby está falando quando conta a primeira grande decepção que sofreu no futebol: final de um campeonato importante e o Arsenal, franco favorito, perde o título para um clube de menor expressão em pleno Wembley, um dos palcos clássicos do futebol em todo o mundo. A dor da derrota foi atroz, mas o pior era o sentimento de traição em relação às pessoas que antes haviam dito a ele que o Arsenal venceria aquela disputa ou aquelas outras que não demonstravam entender a sua relação com o seu time.

Isso não é tudo. À medida que a narrativa avança, Hornby revela fatos e acontecimentos de sua adolescência, do início da vida adulta, da universidade, dos relacionamentos com as mulheres, com os amigos e do quanto o seu vínculo extremo com o futebol influenciou a vida de todas as pessoas que conviveram com ele. Suas referência cronológicas não remetem ao calendário cristão, o que demarca sua trajetória são as temporadas do Arsenal, anos em dobradinhas: 80/81, 86/87, 91/92, na forma do tradicional calendário esportivo europeu. Ele não descreve o quarto, a sala ou a cozinha das casas em que viveu, mas, por outro lado, o leitor lê as descrições de cada pedaço das arquibancadas de Highbury, o estádio do Arsenal. Conforme avança em anos e experiência, surge a necessidade de migrar para se acomodar em diversas partes diferentes daquele pedaço de concreto tão querido.

Ao falar em arquibancadas, lembro que o hooliganismo é um ponto sensível do futebol europeu. Obviamente a violência das torcidas não é um problema exclusivo do Velho Mundo, mas a grande parte da inspiração dos arruaceiros de hoje partiu das confusões registradas por lá, sobretudo na Inglaterra. O autor tocou nesse assunto, mas eu diria que ele foi condescendente em relação os atos criminosos e selvagens praticados pelos hooligans. Ele até chega a repudiar essa violência, mas de forma complacente, indulgente. Diria mais, as tentativas de encontrar explicações para alguns massacres famosos em estádios europeus envolvendo ingleses soaram como simples corporativismo. Afinal, é seguro dizer que, no período de que trata o livro, qualquer frequentador assíduo dos jogos do Arsenal, como o autor, para dizer o mínimo, esteve muito envolvido nas atividades dos hooligans.

Por outro lado, o autor aparenta o amor próprio pouco desenvolvido. Ele se define como um sofredor nato. Diz claramente que os jogos do Arsenal sempre foram uma chatice sem fim. Torcer para o Arsenal, na visão de Nick, é algo como uma tarefa de Sísifo: uma eternidade de jogos muito ruins, repletos de empates sem gols, derrotas amargas e poucas vitórias apertadas. Em realidade, porém, entendi essa visão pessimista sobre o próprio time, mais como um recurso literário do que como a realidade dos fatos. Afinal, como disse no início, o foco da obra não é o futebol e sim a obsessão. E, a meu sentir, nenhuma obsessão existe que não traga consigo algum sofrimento arraigado e persistente, daí a necessidade em exagerar o “sofrimento” causado pelas alternâncias, pela transitoriedade, e, acima de tudo, pelas injustiças do mundo da bola, no qual sonhos acalentados por anos a fio terminam abruptamente, no trágico e imprevisível voo de uma Jabulani qualquer.

Enfim, já no primeiro parágrafo, eu dizia que Hornby havia conseguido expressar o que é o futebol falando dele mesmo. E o fez, descortinando seu universo permeado pelo futebol e, com isso, estabeleceu pronto canal com outros obsessivos pela bola. A compreensão é imediata e muitas vezes não é preciso sequer terminar a leitura de uma frase ou capítulo para saber exatamente do que o autor está falando. Papo reto, por assim dizer. De obsessivo para obsessivo. Surge, então, sem esforço, o entendimento (pelo menos quero crer que foi assim).

Nesse ponto, entretanto ouso discordar do meu grande amigo (e ídolo) LMAGALHAES que afirmou os signos lançados nas páginas de “Fever Pitch” estariam fora do alcance da compreensão das mulheres. Não, não. As mulheres possuem lá suas próprias obsessões. Nem sempre trata-se do futebol, mas o mundo é mesmo assim: ninguém é perfeito. Elas, claro está, poderiam decifrá-lo (falo do livro) plenamente. Colheriam a essência da maneira mais absoluta, caso os paradigmas e os exemplos fossem identificáveis para elas como o futebol é para a grande maioria dos homens. O problema é que Nick Hornby é um grande bastardo inglês e um tremendo egoísta.

Tudo bem que ele escreveu essa jóia divertidíssima, o “Febre de Bola”, mas isso não redime o seu egocentrismo. O livro, por seu turno, é tão bom que, se não soubesse que a melhor maneira de dizer obrigado a um autor é ler o seu livro, poderia até dizer uma ou duas palavras para esse inglês egoísta de uma figa. Claro que poderia e não desconsidero nada disso. Todavia, estimo que ele não daria a mínima para nada disso. Até porque estamos em janeiro de 2011 e a temporada 10/11 está em pleno andamento na Inglaterra: o Arsenal está apenas 4 pontos atrás do Manchester United, que é o líder, de maneira que Nick Hornby tem mais com o que se preocupar.
Iago 19/07/2011minha estante
Gostei muito da sua resenha, mas tenho minhas dúvidas o amor de Hornby pelo futebol, por mim ele é apaixonado pelo Arsenal e pelo Highbury, e futebol como esporte mesmo era uma distração como as "outras coisas de sua vida".Ainda queria algo dele escrito sobre a mudança de estádio do Arsenal, já que agora jogam no Emirates Stadium...e também há outra coisa, no lugar do Higbury hoje é um condomínio, dúvido muito que Hornby não tenha um apartamento lá..




Luiz 11/08/2010

Futebol é uma caixinha de surpresas
Parem as prensas! Com o perdão do trocadilho, Primeiro às premissas:

1) Amigo meu, este não é um livro sobre futebol, de jeito nenhum.
2) Sob pena de tomar pedradas, me perdoem garotas, mas este é um livro que vocês talvez não entendam perfeitamente.
3) Como sói acontecer na grande maioria dos bons livros, é muito difícil ser taxativo sobre o seu tema. Neste aqui, como nos outros do Nick Hornby, saltam aos olhos dois, obsessões e universo masculino.

Às explicações!

Futebol não é uma questão de vida ou de morte, amigo, é muito mais importante que isso. Acho que foi o Anjo Pornográfico Nelson Rodrigues que disse que tolo é aquele que no futebol só enxerga a bola. No nosso esporte predileto, existe uma gama de interesses, aspirações, culturas e paixões que permeiam o jogo em si. Oras, sem paixão não se chupa nem um chicabon, não é, Nelson?

O relato de Hornby tem como gênesis o divórcio dos seus pais e, como eu, há uma boa chance de alguém aqui ser filho de um lar desfeito e se identificar com o garoto Nick logo de cara. No fim do casamento de seus pais, Nick, que se encontrava sob o teto da mãe durante as semanas e sobre a guarida do pai nos fins-de-semana, via-se diante do estranhamento de não ser nem um pouco semelhante com aquele senhor que antes dormia na cama da sua mãe. Suas músicas prediletas não batiam, seus ídolos eram diferentes, seus gostos eram de espectros distantes. Mas ainda assim a identificação dos dois era necessária, pois era grande a possibilidade de acabarem ambos excluídos da vida um do outro. Zeloso, o pai de Nick resolveu levá-lo ao jogo do Arsenal F.C., time de futebol inglês, pois ali, na multidão, nenhuma conversa era necessária. Ali pai e filho participariam de algo maior e poderiam matar o tempo que estariam juntos.
Quem já foi em um estádio sabe, a catarse esportiva desmancha as individualidades em uma massa disforme, mas concisa. Um jovem executivo analista de riscos da bolsa, totalmente wasp, MBA na FGV e Mestrado em Harvard que vá ao Pacaembu pode, com lágrimas nos olhos abraçar o proletário do Capão Redondo na hora do gol, ao passo que este mesmo proleta não acha, de fato, que a mãe do juiz bata ponto na zona do meretrício. A mentalidade do coletivo insere esses valores nos torcedores. Como o garoto Nick não se apaixonaria por algo assim?

É desse evento que surge a paixão da criança, a devoção do adolescente e a obsessão do autor, que constrói sua autobiografia-temática de cabeça, sem jamais pesquisar quem foi o autor do primeiro gol do jogo de 26 de maio de 1989, por exemplo. Como alguém consegue sustentar uma relação com um time de futebol por mais de 30 anos, durante um espaço de tempo em que todos os demais relacionamentos falharam? Nick acerta em cheio quando diz que nos homens, às vezes porcos e cafajestes, temos facilidade enorme em trocar nossas namoradas, amantes e esposas por outras ‘melhores’, mas honramos e jamais trocaríamos de time, mesmo quando ele foi rebaixado para série C ou apresentam um futebol tão maçante e enfadonho que acaba cognominado de “Boring Arsenal”?!

E é assim que esse Hornby bota o dedo na nossa cara e nos aponta como igual, não aquele torcedor que fica contente quando descobre pelo porteiro do prédio que seu time ganhou, mas aquele torcedor para o qual o futebol não é uma experiência exatamente agradável, com seus nós no estômago a cada cruzamento por trás do gol, suor frio quando o técnico da seleção saca o atacante para pôr um volante e a irritação de uma campanha pífia, mas que sabe que o negócio todo é bem mais forte que ele e que até sente uma pontinha de orgulho ao se ver sentando em um pedaço de concreto de um estádio de quinta categoria às 15hrs de um domingo torcendo para seu time voltar para a elite.
O livro é para aquele obsessivo que sabe que o futebol não é só um jogo, que briga com a namorada para não ir ao cinema e ficar em casa no domingo à noite vendo a mesa redonda com Milton Neves e o Neto (“Mas você já não sabe o resultado, pra que ficar escutando tudo de novo?”). Mas não só prá este como também para aquele camarada que roda a cidade atrás da versão original, não remasterizada, do Blonde on Blonde do Bob Dylan, ou aquele maluco que encontramos em pé em um sebo com um sorriso abobalhado e uma expressão de contentamento com a 1ª edição de algum livro do Monteiro Lobato. Se você é homem, amigo, você tem uma obsessão: Carros, figurinhas, discos, charutos, vinhos ou, simplesmente, qualquer coisa que te faça devanear “no meio de um dia de trabalho, de um filme ou uma conversa - sobre um voleio de canhota no canto superior direito ocorrido dez, quinze ou vinte anos antes”
Jim do Pango 11/08/2010minha estante
Mestre Magalhanovic,

Nem todos os críticos e críticas podem se gabar de estarem à altura do objeto criticado, mas você produz algumas tão boas, quiçá melhores, que os próprios livros. Parabéns!

É curioso notar, entretanto, que aqui no Skoob há 3 resenhas sobre a obra em comento, sendo que a sua é a primeira que não foi escrita por uma mulher. Uma das premissas sofreu forte abalo, mas certamente o resultado já era esperado pelo elevado índice de aptidão para produzir polêmica que ela detinha.

Lerei o "Febre de Bola" agradecido por ter sido apresentado a ele de forma tão elegante.

Um forte abraço




Nessa Gagliardi 22/07/2010

"Febre de Bola" começa num ritmo frenético e extremamente cômico. Os primeiro capítulos têm cada pérola que dá vontade de reproduzi-las por aqui aos montes. Pros amantes de futebol, as tiradas eram excepcionais!

Hornby escreveu este livro traçando um paralelo entre sua vida pessoal e sua obsessão pelo Arsenal (e depois em escala menor, pelo Cambridge United), e todos os fatos são narrados em capítulos que são divididos por jogos de futebol desses dois times. O que o livro peca é no excesso de "causos" que, por fim, acabam entediando.
Poderia ser um excelente livro se tivesse a metade do tamanho. Começou com um 5, caiu para 4 e fecho minha avaliação com uma nota 3.
*Carina* 21/06/2010minha estante
Tb achei que o começo foi mais promissor que o andamento, mas ainda assim adorei. Aquelas 4 primeiras páginas da introdução, pra mim, são impagáveis, lembro que estava num café e ria sozinha a ponto das pessoas olharem pra mim, rs.




Lidy 20/06/2010

Em tempos de Copa, existem outras opções para quem não gosta tanto de acompanhar os jogos, ou mesmo para distrair os fanáticos entre o intervalo de um jogo e outro. Entre elas, está uma figura conhecida da literatura inglesa contemporânea – Nick Hornby. Mais famoso pelos livros Alta Fidelidade e Um Grande Garoto, iniciou com uma obra que aborda a paixão – nas palavras do autor, obsessão – pelo futebol: Febre de Bola.

Nick Hornby é fanático pelo Arsenal – um dos clubes de futebol da Inglaterra. Ele não somente acompanha resultados e notícias do time, como faz questão de ir ao estádio para assistir aos jogos, com todas as implicâncias que essa experiência traz. Mostra-se um torcedor fervoroso, marcando presença mesmo nos amistosos e conferindo os lances de cada jogador do Arsenal junto com a torcida.

A história de Febre de Bola é contada pela perspectiva do torcedor – no caso, o próprio escritor, representado pela personagem principal. Não relata apenas os jogos do seu time predileto, mas destaca também disputas de outras equipes inglesas e grupos de amigos. Logo nas primeiras páginas, dá espaço ao Brasil, comentando o desempenho elogioso de Pelé na Copa de 1970.

A paixão pelo futebol retratada na obra quebra os estereótipos existentes e velhos conceitos ditos, principalmente por pessoas que pouco sabem sobre o esporte, como a ideia de que futebol serve somente para entreter. Embora reconheça a ideia dessa prática como uma arte, Hornby sabe que sua paixão não se resume a isso e existem outros aspectos a serem levados em conta. Valoriza o empenho dos jogadores, ao concordar que o time vencedor de uma partida nem sempre apresenta o melhor desempenho.

A violência em campo também é abordada no livro, em uma situação constrangedora para o autor. Durante a Copa da Liga dos Campeões da UEFA, em 1985, a partida Juventus x Liverpool - do capítulo homônimo - terminou com a morte de 38 torcedores italianos. Hornby assistiu ao jogo pela TV, na companhia de seus alunos de nacionalidade italiana. No período, lecionava inglês para estrangeiros. Ao falar sobre o momento em que se desculpou pelo acontecimento, relata o seu impacto; a forma como algo tão pequeno pode terminar em tragédia.

No lugar de capítulos, a história é divida por jogos – como se fossem várias crônicas unidas por alguns pontos para compor o romance. O autor compara e concilia os relatos dos jogos com acontecimentos de sua vida durante os anos em que acompanhou o time - o processo de amadurecimento, a relação com familiares e amigos, os primeiros “amores” e a separação de seus pais são retratados.

A narrativa bem desenvolvida do autor inglês é capaz de agradar até quem não gosta do tema ou, especificamente, de times ingleses. O tom informal e descontraído consegue fisgar o leitor, evidenciando o humor típico de Hornby.
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