Thiago Duarte 28/12/2021
Lembranças de um período contubardo
“Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta.” Assim se inicia uma das obras mais importantes de Raul Pompeia: O Ateneu. O romance vai narrar, em primeira pessoa, a história de Sérgio o qual, depois de adulto, resolve contar suas reminiscências de quando era um garoto doce, ingênuo e religioso na fase dos 11 anos e aluno do Ateneu (colégio interno frequentado apenas por homens), conseguindo assim sair dessa caracterização “angelical” e passa pela maturidade, por mais que ela tenha acontecido na maior das atrocidades. Nota-se que o livro possui uma linguagem bem difícil, mas que isso não o torna inalcançável aos leitores. Pompeia, assim como seu personagem principal, também estudou em um internato chamado Colégio Abílio, fazendo com que esse romance seja tratado como autobiográfico.
A princípio, como visto anteriormente, o livro começa com a lembrança de Sérgio ouvindo a instigante e desafiante fala de seu pai o qual diz que o menino precisa conhecer o mundo e ter coragem para enfrentar as lutas desse mundo. Metonimicamente e eufemisticamente, pode-se compreender pelo dizer do pai que esse mundo seria uma suavização da “parte pelo todo”, isto é, o Ateneu representará uma parcela do que seria o mundo real, onde Sérgio terá contato com as mais diversas mediocridades em consonância a personagens emblemáticos que beiram à ganância, à luxúria, à vaidade, à imoralidade. O colégio ficcional, do lado de fora e a recepção do desfile dos alunos para o início do ano letivo, é para Sérgio encantador e colossal. Entretanto, ao ingressar de fato no internato, o menino vê que aquela beleza e recepção, não passavam apenas de roupagem para um colégio que por dentro era um antro de imoralidades e imperfeições. Sendo assim o garoto que até então era cru a esses aspectos, acaba passando por diversas situações caóticas que acabam moldando a sua personalidade, seu amadurecimento como o pai já havia dito.
Além disso, Pompeia acaba trazendo também a questão da homossexualidade por essa convivência entre os meninos e também de toda questão que ele traz sobre os protetores e protegidos, mas não uma afeição de amor e prazer muitas vezes, mas sim como algo conturbador que paira a favores sexuais partindo dos alunos maiores (protetores) para com os alunos mais fracos (protegidos). Há ainda também a discussão a respeito da religião onde um de seus colegas se acha o que tem mais moralidade e sabe de tudo do mundo celestial, utiliza-se dessa vertente não para dar um certo amparo aos colegas, pelo contrário faz da religião uma forma de pôr medo, amedrontar as crianças.
Desse modo, ao saber um pouco da vida de Raul Pompeia, O Ateneu permite ao leitor entender que esse livro é em tese autobiográfico, justamente, pelo autor ter estudado no internato Colégio Abílio, e assim, de forma ficcional transpor as suas frustrações de quando estudava lá. Logo, percebe-se que Pompeia através desse romance vem denunciar os abusos que eram tratados dentro dos internatos, como o abuso de poder e a não fiscalização comportamental de alguns alunos para com outros, sendo mais importante o status do que de fato a vida daquelas crianças.