Ronaldo 22/03/2020Observadores de formigas – Glauber Vieira FerreiraSabe aquela máxima de que todos somos organismos vivos repletos de complexidade? Se vistos sob uma lupa, cada um de nós tem particularidades, manias, acessos e excessos. E no meio de tudo, vivendo tudo, temos por mania uma organização social para não soarmos caóticos; mas, ainda assim vacilamos nos pequenos gestos, na seletividade social e na forma como nos damos – e recebemos o outro.
Toda a humanidade, do menor ao maior caso, faz parte da observação atenta de Glauber Vieira Ferreira e serve de matéria para o seu excelente Observadores de formigas. Entendendo que somos nós seus personagens, coabitando no espaço de suas histórias, experimentando sua escrita em cada palavra materializada, não poderia deixar de ser uma obra incomparável.
Primeiro que o autor já nos desafia no gênero. Aqui não temos um romance, mas um punhado de existências organizadas no que se entende por minicontos. São pequenas histórias, casos cotidianos, epopeias particulares que se tornam grandiosas na capacidade de concisão de Glauber.
E talvez daí tenhamos seu mérito: a exatidão de sua escrita, que por vezes, até num pequeno diálogo, é capaz de contar um pedaço do que para o leitor pode ser a maior dentre todas as maiores narrativas. Sua precisão é tão autêntica quanto original e qualquer coisa lhe serve de inspiração: um telefone, um pedido, uma possibilidade, um muro, um beijo e um silêncio.
Somos, a todo momento, incitados e provocados pela escrita a darmos possibilidade às histórias que, por si só, já são multifacetadas. Cheias de tato e referência, nos colocando tal qual minúsculas formigas se debatendo no caos da existência.
São breves contos que emocionam, fazem rir, incitam a uma reflexão mais atenta. E de qualquer forma, somos nós também autores e atores do que o autor constrói aqui: um memorial legítimo do que somos em breves, muito breves, experimentações do mundo.
Recomendadíssimo. É uma leitura um tanto quanto rápida, mas não tão rápida que nos passe sem que passemos por ela primeiro. Como toda boa literatura deve ser.
Boa leitura!