Dani | @leitorahemcrise 24/10/2020Distopia nacional que disseca e expõe todos os preconceitos e problemas da nossa sociedadeAVISOS: Antes de ler esta resenha ou a obra, esteja ciente que ambos contém diversos gatilhos de exploração sexual, escravização, racismo, estupro, violência extrema, automutilação, violência contra a mulher, LGBTQfobia.
"Se os mais pobres crescem sem oportunidades de acesso às zonas onde há melhores escolas, como é que se espera que eles ascendam?"
Metrópole. Colônias. Segregação. Pretos trabalhando para brancos ricos.
O Segredo das Larvas é uma distopia nacional que conta a história de um Brasil do futuro, após um grande incidente chamado Breu, em que um apagão de muitos dias quebrou a economia mundial e obrigou o país a se reorganizar.
É nesse cenário que Volp disseca e expõe a nossa realidade brasileira com maestria, através de uma sociedade pautada pela segregação, em especial a racial. Em sua construção de mundo muito bem feita, o Brasil divide-se em Colônias - reservadas para pessoas de pele preta - e Metrópole - a esperança de um lugar melhor habitado por maioria de pessoas brancas.
Todos os anos, um programa escolhe garotas negras jovens para passar a maior parte de suas vidas na Metrópole, prometendo uma vida melhor para elas e para suas famílias que permanecem nas Colônias sendo auxiliadas. Parece incrível na teoria, mas na prática essas jovens embarcam em um programa de apagamento de suas identidades e de suas peles para se tornarem nada além de acessórios e escravizadas pelos homens brancos. E Freya, nossa protagonista, sabe disso melhor do que ninguém.
Tendo a mãe como a única mulher que retornou para uma Colônia com vida após passar um tempo na Metrópole, ela é conhecida por todos como Filha da Marcada e cresceu treinada para fugir caso seja convocada para o programa que quase matou sua mãe. No entanto, é quando ela fica de frente para uma tragédia que Freya tem que decidir: ela irá lutar contra o sistema opressor em que vive ou continuará a se esconder?
Volp aborda temas importantíssimos nesse livro e com total domínio de diversos assuntos como opressão e racismo, o falho sistema de meritocracia, a sexualização de pessoas pretas, entre outros. Com isso, ele coloca todos os leitores para refletir sobre preconceitos que moldam a nossa sociedade e se perpetuam, especialmente dentro de nossa política, lembrando extremamente às últimas eleições e a onda fascista que atravessa, novamente, o mundo e o Brasil em 2020.
O ritmo do livro nos seduz e quase nos obriga a continuar lendo, sem conseguir parar, porém do meio para o final isso diminui, o que me pegou um pouco. Além disso, a protagonista não conseguiu me cativar e me convencer de suas atitudes, talvez por conta da rapidez dos acontecimentos e de muitas cenas que poderiam ter sido prolongadas. Os relacionamentos amorosos que tiveram também não foram vistos por mim como necessários ou convincentes. E, em alguns momentos, a abordagem LGBT e da mulher soaram um pouco desnecessárias, porém decidi encarar como elementos da própria sociedade opressora criada pelo autor.
Entretanto, NADA disso me fez duvidar de que PRECISO ler a continuação desse livro. Ver essa roupagem e essa literatura distópica nacional me deu esperança como escritora e deu ao Volp uma nova fã por aqui! Mal posso esperar para o segundo livro. Que mais autores pretes ganhem o destaque de Stêfano Volp e brilhem
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