Rafael_Santiago 17/03/2021
Uma discussão necessária mas impopular para a maioria
O livro constrói pouco a pouco uma narrativa do que viria a compor um novo período de apagão criativo na humanidade. Sendo um dos principais gatilhos disso a tecnologia, sobretudo da informação. Constantemente, o autor usa de motes a partir de narrativas, à primeira vista, desconexas com o tema principal e vai criando a ligação. Em alguns momentos ele tem sucesso, em outros momentos ele falha, por forçar muito a barra e dar ares épicos de Viagem ao Centro da Maionese.
Um dos pontos positivos do livro é apresentar -- em alguns momentos -- as tecnologias da informação, IA, Big data em geral, como uma parte que pontencializa um problema mais vasto, crônico e inato da natureza humana. Quase todo texto ou discurso banal atual (2021) que levanta os malefícios da Internet, IA assumem que o ser humano é perfeito e está sendo profanado pela tecnologia: uma consciência própria, nefasta e não humana agindo nas brumas e corrompendo o mundo, por erros ou simplificações extremas em sua implementação. Esse entendimento é muito leigo e ingênuo. Já vi jornalistas, comunicadores, filósofos, entre outros com esse tipo de discurso bem raso e de senso muito comum, indicaria esse livro para que eles comecem ensaiar mergulhos mais profundos no que seria o cerne real do tema. Infelizmente o livro às vezes falha, caindo no entendimento comum e reducionista, ironicamente o livro constantemente ataca a ideia geral do reducionismo, mas cai em momentos reducionistas também.
Pontos importantes que ele aborda: Reducionismo (até onde consegue), negacionismo, academicismo que eletiza a ciência e a afasta das massas que abraçam pseudociência por conta dessa carência imposta por uma "casta" que quer apenas publicar em um limbo mesmo sem uma real e interessante questão científica para discutir, conspiracionismo, privacidade e manipulação.
Depois de ler o livro a questão que me fica é: a nova idade das trevas é realmente nova ou é um estar na sociedade desde que o mundo é mundo -- nesse caso, mal-estar -- e que qualquer pequeno avanço vem depois de muito ostracismo de boas ideias e posterior luta de poucos em resgatá-las? Imagina um vaga-lume aqui e outro ali tentando iluminar uma noite inteira, teria como essa constante e secular noite virar dia um dia e nunca mais anoitecer? Eu penso que não. Vaga-lumes não são eternos e nem tampouco incorruptíveis. Talvez esse "chiaroscuro" faça parte do processo, ao mesmo tempo que uma parte nega sua parte antagônica, ela valida sua própria existência por meio dessa mesma negação. E vamos nós humanos surfando nessa senóide doida de nossa própria existência em algo maior em que nossa falta enquanto raça não faria nem o mínimo de cócegas.