Ique 09/07/2022Lares da introspecçãoBaseando-se na possibilidade de se reinventar entre quatro paredes, temos 4 personagens que, dentro de seus lares, vivenciam seus renasceres. Luize Valente, a autora de ?Do tempo em que voyeur precisava de binóculos?, nos traz uma história com 3 contos, fazendo que descubramos tanto sobre os personagens quanto sobre nós mesmos.
Na primeira temos Silvio, o acidentado que redescobre o hobby em assistir a vida dos outros. Durante seus tediosos dois meses, em que teve que habitar a solidão da sua casa, Silvio criou novamente o hábito de observar os outros, fazendo críticas aos seus temperamentos, reações e relações. Mediante a tudo que via, assim desenvolvia sua apreciação e afetos, que nutria até a descoberta de um outro vizinho para observar.
Na segunda história, Eva, uma mulher casada que, ao acordar ao lado do homem que a traiu, reflete sobre sua juventude até seu momento atual. Ela viveu uma vida onde fazia tudo que fosse necessário para ser aprovada e, nesta manhã de reflexão, ela revê quem é e decide dar passos diferentes nesse novo dia, começando com algo que nunca fez antes: dar prazer a si mesma
Na terceira: duas mulheres, inomeadas, que vivem em estabilidade financeira, mas aos cacos da estabilidade da relação amorosa. Vivendo longos momentos de discussão, onde quaisquer palavras podem se tornar fagulhas de uma nova pira a acender e queimar, e definitivamente queima, porém não queima tão forte quanto a vontade de querer fazer aquela relação dar certo.
Acredito que o nome do livro seja sábio. Voyeur é o sujeito observador, aludindo à uma pessoa que assiste mas não é assistida, fazendo assim críticas ao externo, outros, mas não ao interno, si mesmo. E é exatamente aí que entra a ironia, Luize desenvolveu a história em contradição ao título, já que vemos muito mais dedos que apontam ao si.