@leiturasdemari 29/09/2019Virei estrela e com gritos que foram ouvidos!Sylvia Álvares é uma baita mulher. Matando todos os demônios na base da unha suja de graxa e sendo a maldita Gina (vide a música de Chico Buarque, A Gina e o Zepelim) do Novo Airão. Sylvia tem 19 anos, mas carrega dentro de si bagagem emocional de uma mulher de 40. Tendo tido uma das piores infâncias que li, ela buscou forças dentro de si e encontrou. E a cada vez que ela fazia um homem gozar, era um demônio que ela exorcizava e dizia:
Meu nome é Sylvia, gosto de cactos, de dançar embaixo da chuva e de banhos de cachoeira. Sou inteligente e estou crescendo. Continuo viva e vou ficar bem.
E de Syl, a melhor mecânica do Amazonas, vamos para o Tenreiro, o Colégio Internato que só os meninos mais poderosos do Brasil poderia estudar. E são justamente por terem tantos poderes que o vazio que eles possuem são preenchidos com coisas que fogem minha capacidade de compressão. Acho que precisar trabalhar e estudar ao mesmo tempo me fez ver tudo por uma perspectiva; crescer com o mundo aos seus pés e com tudo que o dinheiro pode comprar, fez eles verem o mundo sob outra.
Atticus, Leônidas, Thomas, Baltazar, Etiénne, Nikolai, Vicent e Louis são os integrantes do Clube de Astronomia mais fajuto do mundo, porque o Clube é somente uma fachada para o que acontece por trás: esses oito meninos lindos e com uma alma maior que o corpo são os Garotos Perdidos do Novo Airão, conhecidos por roubarem dos ricos e darem aos pobres. Os Robin Hoods amazonenses.
Cada um desses meninos tem seus motivos particulares que os fazem integrar o Clube; seja por rebeldia, seja por um desejo e poder de comprar o mundo, seja porque participar de um grupo assim preenche seu vazio; seja porque roubar é muito mais fácil do que enfrentar seus pais.
Ainda que sejam oito meninos pertencentes ao Clube, a história segue com um foco especial em Atticus, nosso mocinho liiindo, e Leônidas, o cara que compra todos aos seu redor e mantém dentro de si uma lealdade invejável. E não, isto está longe de ser um triângulo amoroso.
Quando Sylvia socorre o carro de Artie com um micro short e sem calcinha e ainda mantém contato com ela, ele sabe, sabe que não tem mais para onde fugir. Logo ele que foge de investimentos de risco, se envolve, e deseja, o que oferece o maior dos riscos.
E quando Artie percebe que a garota dona do maior número de caras já dormidos é muito maior que somente esses números, quando todos os meninos percebem isso, é impossível que ninguém a queira por perto. A Sylvia não é uma donzela em perigo, ela é uma alma solitária vagando pelo mundo precisando que alguém a puxe para perto e a diga que ela não está só. Que a prove que ela não só. E ver essa amizade de todos eles crescendo e fluindo são momentos que só de pensar surge um sorriso bobo no meu rosto, porque amizade para mim é isto, é ser leve, é ser bobo, é ser bom. E esses meninos me provaram um novo tipo de amizade, de companheirismo e eu garanto a vocês que é impossível você não se envolver e não desejar fazer parte desse grande grupo.
A lealdade entre amigos é um assunto corriqueiro entre os livros da Carol, e particularmente esse é um dos motivos que me faz amar ainda mais as obras da autora, ela aborda a amizade como o principal amor e valor e eu me identifico muito nisso. Não é uma história de amor entre um homem e uma mulher, é uma história de amor entre um grupo de homens e mulheres que se escolheram para apoiar-se e enfrentar os grandes, pequenos, maravilhosos e péssimos momentos.
Contudo, podemos perceber outro tema muito forte e que foi superbem retratado: o feminismo e poder da sororidade. Gente, que livro perfeito! Sylvia é uma mulher totalmente fora dos padrões impostos pela sociedade, pois bem, mas ainda assim é para ela que Virginia, sua única amiga de anos em Novo Airão, e Donna, namorada do Thomas, correm quando tudo apertam. E como Sylvia sabiamente fala em uma das grandes cenas do livro, “mulher se sente melhor quando tem outra mulher”. Ainda que haja muita disputa entre mulher (coisa que jamais deveria haver) ainda nos sentimos melhor e mais seguras com outras de nós no mesmo recinto. E ver a interação dessas meninas é de aquecer o coração. Ser mulher dói, mas ninguém pode dizer que somos fracas. Não. Fraqueza nem existe em nosso dicionário.
E claro que eu precisava falar do romance porque se a Carol é simplesmente perfeita ao nos contar sobre fortes laços de amizades, no romance essa mulher nos faz suspirar demais. Mas como também é de praxe, Carol não sabe criar personagens que caiam de amores rapidamente; eles demoram, mas quando caem...é um tombo. É um verdadeiro e lindo tombo. O romance de Sylvia e Artie é próprio deles. É recheado de poder, abrir de mãos e primeiras vezes. Se apaixonar nessa idade pode não trazer mais a ideia de ser para sempre quando temos 14/15 anos, mas traz toda intensidade. E Teodósio e Alvares são intensos. E romance deles não somente aquece meu coração, como incendeia.
E esse foi definitivamente o livro da Carol que mais me tirou do chão e eu julguei ser impossível. Gente, A Mais Bela Melodia acaba com qualquer um! Mas ainda assim Constelações de Gritos Mudos veio para me provar que todos nós podemos nos reinventar e a Carol é mestra nisso.
O que esse livro nos reserva, um acompanhante de todas as obras da Carol, é inexplicável. Só de lembrar vem mais lágrimas nos meus olhos, é uma surpresa mais que agradável em um momento de muita tensão. Aquela famosa luz incandescente no fim do túnel. E eu simplesmente me vi torcendo para essa luz alcançar os personagens logo. Me alcançar logo de tão envolvida que fiquei. Podem perguntar a Carol se quiserem, mas eu simplesmente surtei. Mandei inúmeras mensagens e eu simplesmente não conseguia parar de chorar. E eu nem sou tão fácil de chorar assim com livros. Quem dirá lendo um nome?
Como a história promete ao trazer um novo tipo de Robin Hood – na verdade, oito Robin Hoods –, teremos algumas cenas onde será possível nossos Garotos Perdidos em ação e Carol simplesmente brilha! Porque ela entrega cenas de uma qualidade de quem escreve isso há muuuuuuito tempo, e com exceção de Improváveis Deslizes, que possui uma veia mais puxada para essas cenas de ações (até hoje me arrepio com uma certa cena narrada pelo Narrador), Constelações nos entregou cenas de deixar queixos caídos e inúmeros questionamentos de onde poderíamos encontrar garotos assim. Se vocês souberem, por favor, me avisem!
Como tinha dito, eu acompanho a Carol desde meus 13 anos e isso já contamos 5 anos, então eu sei que as obras delas são narradas pelos personagens principais e também sei que quando o Narrador entra em ação, meu coração vai errar várias batidas. Foi assim no prólogo quando temos um vislumbre de como e quando se iniciou a jornada de herói da Syl e é assim quando chegamos na grande Cena de Constelações. Eu nem vou falar nada sobre a grandiosidade desta cena, porque A) isto seria spoiler e dos grandes; b) porque eu não sei. Já faz uma semana que terminei este livro e eu ainda não sei falar com clareza sobre tudo que este livrou causou em mim. Mas o que eu sei é que este livro é um dos melhores que já li na minha vida e para superar ele vai ser difícil.
No mais, eu odiei ter que me despedir desses meninos, mas sei que isso é um até breve. Sei que a Carol vai trabalhar com ele em mais algumas obras, assim como trabalhará com outras de minhas grandes paixões. Acredito que o único ponto que poderia ser mais trabalhado seria os outros garotos do Clube, mas isso deve-se ao fato de ter me envolvido com cada um, então eu queria demais que eles aparecessem mais.
Sei que Constelações de Gritos Mudos causou em mim grandes emoções e ao terminar a leitura fiquei em torpor e isso se deve demais ao fato do que a Carol nos reserva nos últimos 10% deste livro. Foi uma coisa que eu jamais esperava e que quando aconteceu eu simplesmente não parei de chorar. Só vim parar no epílogo. É mais uma vez a Carol Teles nos provando porque ela é uma das melhores autoras desta década para mim; é a Carol mais uma vez provando sua grandiosidade e nos provando que gravidade e astronomia são somente conceitos quando se tratam de suas obras. Eu flutuei e virei estrelas e se eu olhar bem para dentro de mim ainda sou capaz de ver poeira estelar me rodando.
Meu único desejo além de que você leia este livro agora mesmo? É encontrar meu Sirius B. Espero que ainda seja nessa vida.
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