Maria - Blog Pétalas de Liberdade 13/11/2019Resenha para o blog Pétalas de LiberdadeAlém de escritor, Frank Tallis é psicólogo e, nesse livro, traz relatos de alguns casos com os quais teve contato através das sessões de psicoterapia em hospitais e consultórios. O anonimato dos pacientes foi garantido. Em comum, os 12 capítulos têm o fato de abordarem a necessidade de amar e de ser amado e os problemas que surgem quando esse amor não é correspondido ou satisfatório.
Uma mulher que se apaixonou pelo dentista e passou a persegui-lo; uma senhora em luto pela morte do marido; uma mulher extremamente ciumenta; um homem viciado em ser amado; um rapaz que não consegue aceitar do término do namoro; um gay que não se sente bem com o namorado; um jovem que se diz possuído por um demônio; um homem que sabe que sentir atração por meninas é errado e afirma nunca ter abusado de uma criança, mas sofre com suas "preferências"; um casal muito excêntrico mas que se completa, são alguns dos casos que o autor traz no livro. Temos também o relato de algo que aconteceu quando ele ainda não exercia a profissão, morava com o filho pequeno e a esposa num vilarejo distante, e presenciou um homem "enlouquecer de amor".
Ciúme, amor não correspondido, término de relacionamento, luto, compulsão, obsessão... Certamente vocês já viram (ou, até mesmo, vivenciaram) alguma das situações descritas acima, em maior ou menor grau. E é interessante como o autor disseca os casos, nos mostrando até onde o que o paciente sentia ou fazia era "normal" e em que ponto passava a ser um problema.
Igualmente interessante são as formas com que o psicoterapeuta trabalhava as questões com os pacientes, seja ao tentar fazê-los colocar para fora as informações que estavam escondendo (alguns casos tem desdobramentos surpreendentes), seja nas maneiras de sanar o problema. Em algumas situações, não havia uma cura definitiva (como arrancar fora um sentimento?), apenas uma forma de lidar melhor com as questões.
Achei curioso como o psicoterapeuta precisa estar atento à possibilidade de estar sendo manipulado, não podendo confiar cegamente no que o paciente diz, ao mesmo tempo em que tem que tomar muito cuidado com suas palavras e ações, pois uma frase ou expressão errada pode prejudicar todo o tratamento. E também há limites em sua atuação, visto que muitos pacientes se dão alta por conta própria e não voltam mais às sessões.
Eu estava curiosa para ler "Românticos Incuráveis" pois achei interessante a temática dos problemas amorosos, mas não sabia bem o que esperar do livro. Felizmente, encontrei uma narrativa surpreendentemente fluida, a escrita do autor é muito boa. Frank Tallis conseguiu costurar bem os casos reais com informações sobre o corpo e o cérebro humano, as origens primitivas do homem (quando a reprodução da espécie era uma necessidade básica) e a evolução ao longo dos tempos, as diferentes correntes da psicologia e de nomes importantes da área, como Josef Breuer, Freud, etc., trazendo uma contextualização histórica com décadas passadas e também com nossa cultura atual, das ideias de amor e relacionamentos representadas na literatura e até mesmo no cinema.
"Românticos Incuráveis" foi uma leitura da qual eu gostei e que recomendo, especialmente para quem procura um livro de não-ficção de leitura fluida e que certamente trará novas reflexões e aprendizados ao leitor.
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