Lipe 03/09/2023
Mais um livro da Lilia lido, e de novo uma leitura de grande prazer! Taunay é o fio condutor, claro, mas o livro traz muito mais que isso. O diálogo entre a França e o Brasil do início do século XIX é aqui maximizado, esclarecido, e bem dotado em imagens. A dita ?Missão Francesa de 1816? é decorticada, trazida ao seu real objetivo, muito menos uma ambição de Dom João, muito mais um projeto pessoal de artistas napoleônicos desafortunados e perseguidos. O foco do livro é deslocado para Taunay, figura constantemente apagada pela historiografia brasileira oficial em detrimento de Debret e de sua crônica social dos trópicos. Como citado pela Lilia no final do livro, ?a história as vezes é desleal com os resquícios que deixam de fazer sentido: esquece-se muito para pouco lembrar.? E as pinturas de Taunay não fazem, de fato, tanto sentido quando comparadas à realidade do Brasil, mas nem por isso devem ser desmerecidas ou esquecidas. Um Brasil decaído em cores e uma natureza idealizada na arcádia italiana, certo, mas que mostra já as diferenças sociais entre escravizados e senhores, e um diálogo entre o Novo e o Velho Mundo.