Ana Júlia Coelho 08/08/2022Com base no título, imaginei que o livro abordaria a origem do diagnóstico de Síndrome de Asperger e como as crianças sofreriam ao receber esse diagnóstico. Mas não.
Crianças de Asperger narra como Viena deu início ao processo de segregação e eliminação de crianças deficientes ou fardos para os pais e a sociedade. Desde o fim da Primeira Guerra Mundial, a cidade ficou devastada e queria um jeito de se reerguer. Percebendo que era um gasto desnecessário dar apoio e condições para crianças fora do padrão se desenvolverem e viverem, o jeito foi segregá-las antes de darem algum prejuízo para a sociedade. A prisão preventiva, sabe? Mas aqui é preventiva, mesmo, já que institucionalizava os pequenos antes mesmo de darem algum indício de problema.
Com a segregação, deu início ao processo de assassinato em massa. Após a tomada de Viena por parte dos nazistas, os psiquiatras responsáveis pelas instituições que cuidavam das crianças viram que poderia valer a pena simplesmente eliminá-las. E isso tudo porque as crianças teriam dificuldades em se enquadrar na sociedade e poriam em risco o bom andamento da rotina vienense. E essa é a parte que o livro foca!! Páginas e mais páginas e mais páginas a respeito de um termo intraduzível (Gemüt).
De todo o livro, a parte que vale a pena é o epílogo, onde finalmente entendi a diferença entre Autismo e Síndrome de Asperger. Porque, de resto, só enrolação (ok, tem dois capítulos – de 10 – que fala sobre o que acontecia nas instituições). Queria que tivesse focado no processo de institucionalização das crianças e como se dava a vida de quem tinha autismo nesses lugares. Acaba que a maioria das crianças assassinadas nem ao menos tinham algum diagnóstico dessa síndrome.
Inclusive, Asperger nem foi o pior cara ou o fundador de qualquer coisa relacionada à segregação. Ele só foi a pessoa que, mais tarde, usaram como referência para falar sobre o autismo. Então faltou criança e faltou Asperger, faltou autismo e tudo que tá nesse título. O livro é tão curto e tão enrolado que nem deu tempo de sentir raiva ou vontade de chorar com o que acontecia. Achei que seria na pegada de livros sobre os campos de concentração, quando no fim se prende muito mais à política da época.
Para mais resenhas, me siga no instagram @livrodebolsa