Alessandro232 17/01/2019
Uma obra que se destaca por sua exploração filosófica e metafísica da temática do vampirismo
O personagem principal que dá título a essa obra é um vampiro. Mas, não espere uma exploração convencional da temática do vampirismo. Em "Blood" não temos a presença de elementos típicos das histórias das criaturas da noite, tais como castelos assombrados, cruzes, condes velhuscos que invandem a cidade de Londres. Em "Blood" destaca-se a exploração diferenciada e metafórica dos temas e motivos vampirescos, com matizes metafísicas. Trata-se de uma obra complexa, que justamente por ser muito diferente, pode desagradar muitos leitores acostumados com histórias mais convencionais e "fechadas".
Vale destacar que a obra tem uma estrutura narrativa intricada, com uma história dentro de outra história. A principal delas é protagonizada por Blood um personagem misterioso que inicia uma jornada em busca de autoconhecimento sobre sua identidade e origem. Ao longo dessa busca, Blood se questiona qual é seu lugar no "mundo", sendo esse lugar um tanto estranho, um misto de passado e futuro, cuja localização permanece desconhecida e de ambientação surrealista.
O roterista J. M. Dematteis explora de forma experimental em "Blood" temas bastante complexos e atuais, tais como o sentido da vida e a possibilidade da continuidade da existência além da morte.
Também chama a atenção a bela arte de Kent Williams de diversos estilos, que rementem às telas "góticas" de Francisco Goya, ao erotismo de Egon Shiller e às manifestações artísticas do Romantismo e Expressionismo alemão.
É muito interessante como o roteiro complexo de Demattis é cheio de simbolismos, metáforas verbais e visuais, referências a seres míticos, destacando-se entre eles, o vampiro e a diversos outros textos, a exemplo de "As mil e uma noites" e os livros da Bíblia combina com as ilustrações sombrias de Williams, criando assim uma perfeita simbiose entre texto e arte.
"Blood" não é para todos gostos, e seu desfecho suscita muitas leituras. Mas, é uma obra bastante ousada e inovadora, que rompe algumas convenções na criação das histórias em quadrinhos, prinicipalmente no que se refere a técnicas narração. É uma narrativa gráfica que instiga o leitor e mesmo quando termina o faz refletir sobre diversas questões filosóficas e existenciais.
A edição da editora Pipoca e Nanquim é excelente qualidade. A capa é dura e com um verniz que acentua a arte de Williams. Também tem interesante prefácio de Demattis sobre o estranho processo de elaboração de "Blood" e as capas originais das edições norte-americanas.