Lutas sociais em Sorocaba/SP ontem e hoje

Lutas sociais em Sorocaba/SP ontem e hoje Marcos Francisco Martins...


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Lutas sociais em Sorocaba/SP ontem e hoje


Greve Geral de 1917, embate antifascista de 1937 e mobilizações atuais




Num estado campeão do reacionarismo nacional como é, de fato, o estado de São Paulo, é muito bom receber a brisa de ar renovado das lutas sociais que este volume coletivo e engajado nos proporciona. Escrito a 30 mãos (são 15 autoras e autores, jovens e talentosos pesquisadores) e composto em 15 capítulos (vários deles em coautoria) e 3 seções temáticas (correspondentes aos três momentos históricos de lutas sociais tratados), o esforço conjunto dos artigos aqui reunidos concentra-se na cidade de Sorocaba, um dos núcleos urbanos pioneiros na industrialização fabril moderna e na constituição de uma classe operária paulista
e brasileira.
A primeira e mais longa parte do livro (8 capítulos) trata da greve geral de 1917 e sua força significativa naquela cidade. Essa experiência de um movimento operário jovem e pujante, com presença hegemônica da tendência anarcossindicalista, deixará legados importantes. Como eu próprio já enfatizei no meu livro Nem pátria, nem patrão! – memória operária, cultura e literatura no Brasil (3ª.ed. rev. ampl., 2002), a imbricação entre cultura libertária e confronto político é a melhor herança das lutas operárias
anarquistas. Por outro lado, a recusa absoluta da luta político institucional tem produzido um hiato de difícil resolução e, no mais das vezes, contribuído, involuntariamente, para a reorganização do poder oligárquico e dos aparelhos repressivos do Estado. A segunda parte (4 capítulos), focalizada nos anos 1930, desenvolve-se em torno da polarização entre o movimento de extrema-direita, identificado com o fascismo integralista que tantos adeptos encontrou, naqueles anos, em estados como São Paulo e Rio Grande do Sul e, de outra parte, as lutas de setores populares, operários e progressistas como foram as dos ferroviários combativos da
Sorocabana e os militares tenentistas mais afins ao socialismo reformista. Esse intermezzo é bastante útil para as reflexões que possamos fazer na atualidade, acerca do recrudescimento de movimentos autoritários nacionalistas de corte fascista ou protofascista. De todo modo, lá como agora, será importante pontuar os limites claros do liberalismo paulista, que sempre não tem tido escrúpulo nem disfarce para se aproximar ou buscar apoios em ideologias e movimentos de viés verde-amarelista, no mais
das vezes truculentos e avessos a qualquer pacto democrático, além de laços nada edificantes com regimes
ditatoriais.
Os três últimos capítulos que compõem a parte final tentam estabelecer esse diálogo trans-histórico entre as temporalidades percorridas. A análise da emergência dos movimentos direitistas na cena brasileira pós-Jornadas de Junho de 2013 é bastante pertinente, sobretudo ao detectar na estrutura, ideologia e funcionamento do chamado Movimento Brasil Livre aspectos presentes, 80 anos antes, na trajetória do Integralismo, como modalidade de fascismo nativo, me pareceu bem elucidativa. Já o paralelo
traçado entre a greve geral de 1917 e o chamamento à greve geral de 2017 (que a rigor não se efetivou como tal),
contra o Golpe de 2016 e o governo antipopular de Temer, careceria de melhor adequação. O que apenas está
a indicar a permanente imprevisibilidade e descontinuidade entre diferentes experiências históricas e contextos sociais.
O que, sim, as melhores tradições do Ensino Livre e da educação libertária nos ensinam é a necessidade do
duro combate à completa regressão política, econômica, socioambiental, educacional e cultural do Brasil de hoje.
Quando arautos do obscurantismo fazem da falácia da “escola sem partido” sua bandeira e projeto de futura
lei, com a complacência generalizada de autoridades, mídias e amplos setores sociais; quando uma justiça seletiva
e partidária impõe um verdadeiro regime de exceção, com esfacelamento arbitrário dos mecanismos do direito; quando legislativo e executivo chafurdam no fisiologismo do tráfico de interesses e no desgoverno de brutos e mandões; quando as forças armadas, para além do palavrório sobre “intervencionismo”, passam de fato a tutelar o governo central, a ocupar o segundo estado mais importante do país e a impor a sombra “da lei e da ordem” ao diapasão do Estado; quando um ex-militar e deputado ultradireitista candidato à presidência da República, apologista da tortura, do estupro e do extermínio de quilombolas e favelados torna-se viável e competitivo; quando os exterminadores políticos da vereadora Marielle Franco permanecem soltos e impunes, passados 120 dias
de seu brutal assassinato: É hora sim, de dizer: Basta! E de continuar a luta, deixando de lado as divergências menores, de princípios, e fazendo convergir a mobilização unificada das esquerdas na resistência ao colapso democrático e na configuração de
uma nova utopia socioambiental. Que, necessariamente, terá que ser, a um só tempo, sorocabana, paulista, brasileira, latino-americana e mundial.

História / História do Brasil

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