(Rodrigo Caldeira, Poeta e editor)
Mar sumidouro é um grande exercício poético para Fabio Daflon. Por isso mesmo, desafiador para o leitor. Aquele que conhece a prosa memorialista de Vento Passado e Estrela Miúda, ou a poética marinha de Mar ignóbil, sentir-se-á em casa com a leitura familiar de alguns poemas que ainda trazem a lume o homem do século XX. Mas, o que, de fato, enriquece o livro – e certamente poderá perturbar o leitor novecentista – é a sinalização de uma nova matéria de poesia que emerge do veio poético de Daflon entre o marulhar e o istmo. Poemas como “Dívida”, “Filho”, “Ciúme”, “Poema sem face”, “Desponto”, “Lugar”, “Nocaute”,
e “Música inside”, revelam ao leitor atento uma grave ruptura que indica, certamente, o novo percurso poético ao qual o autor se lança. O abandono da métrica, a traição do soneto e o deleite com que se entrega ao verso livre, evidenciam o esforço de Daflon em navegar pelo destino daqueles que traem as leituras primeiras em prol do paideuma futuro.