Dono de uma prosa surpreendente, o autor integra-se àquele oco do mundo, lugar sem espaço para o movimento e onde, maravilhoso paradoxo, cabem todas as palavras. O motivo de ReNato e de seu narrador em primeira pessoa - se é que se pode dizer que há realmente um narrador - é, portanto, a inação que gera o verbo. Não há fabulações, não existem fatos mirabolantes que mereçam, ou devam, ser contados; há enredos pregressos que antecedem o tempo da escrita e que fazem brotar o jorro de uma prosa que flerta impudicamente com a poesia. (...) o apego à expressão exata é testemunho e testamento várias vezes ratificado ao longo de Macânica dos Fluidos: a palavra é arma branca, instrumento incisivo e afiado, que exerce fascínio descritivo entre escritor, narrador e leitor.