¡Mira!

¡Mira! Maria Inês Almeida...


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artes visuais contemporâneas dos povos indígenas / artes visuales contemporaneas de los pueblos indí...




¡Mira! e veja nossa terra nas imagens que os índios estão mostrando. A jibóia, o huni, a coca e outras entidades que nos ajudam a ver a inteireza do mundo, e que podemos ver quando somos deslocados pelas forças do próprio mundo. O sujeito longe de suas ancoragens é o efeito da experiência, quando entramos em uma paisagem.

A arte que alguns indígenas estão fazendo elabora uma visão refratária da terra mãe. Floresta, Andes, Cerrado,
aldeias, pessoas, plantas e bichos, diversas cenas, não em sua figuração mimética, mas em estado de
distanciamento, em crise. Por isso tais elaborações pertencem também à modernidade artística. Suas obras
são contemporâneas porque todos nós que compartilhamos o mundo moderno e urbano estamos, com os
artistas indígenas, em estado de exílio. Apesar dos protestos do Romantismo, a distância da aldeia é a condição
em que vive o homem da cidade. Por isso, a restauração do ambiente, da língua, da alegria, pauta a arte em
nossa civilização e a maioria das obras dos artistas indígenas mostra também essa busca. Pelo fazer artístico,
muitos jovens das aldeias estão transitando em meios estéticos urbanos, mas não vamos, porém, ler estas obras
implicando-as num movimento romântico, porque elas não dizem do retorno a uma origem individual, mas do
fluxo que garante o retorno do outro, o constante devir em que vivemos todos, na pluralidade de mundos. A
origem aqui é um lugar, a fonte que no presente religa a comunidade. Este lugar presente é pura linguagem e se
encontra, paradoxalmente, na passagem e na tradução.

O diálogo destas obras não será, portanto, com uma estética da verdade, nem realista, nem projetiva. Não
queremos demarcar territórios nacionais ou étnicos, nem utópicos. Vamos atender ao chamado e ver as obras
de artes visuais indígenas contemporâneas como manifestações de uma estética visionária, fulgurante, como a
miração do cipó, com suas cobras e liames, com sua fluidez de todas as formas. Nesta medida, vemos tais obras
como intensidades xamânicas, cada uma a sua maneira, e tão mais fortes quanto mais se colam à técnica e
material escolhidos.

As artes visuais que alguns indígenas estão fazendo, expondo e vendendo, entram em nosso mercado, na cidade
grande, como objetos e signos de outras realidades. O que difere suas peças dos objetos e signos tradicionais,
frutos da cultura oral, são a tensão e a perturbação, algo que um indivíduo é capaz de expressar quando vê o
mundo de longe. Talvez seja a posição do pensador, ou, como diz o poema de Carlos Drummond, a vida no seu
stop. Então o artista abre diante de nós sua pintura e diz: “ ¡Mira! Esta é minha visão, é como eu sonhei, como
vislumbrei. Seu olho vai captar o que minha mente registrou numa superfície. Leve para sua casa esse quadro, e
terá uma visão de como é a vida lá onde você não está”.

Maria Inês de Almeida
Coordenação geral da mostra.


A mostra
O Centro Cultural da Universidade Federal de Minas Gerais apresenta a exposição ¡Mira! – Artes Visuais
Contemporâneas dos Povos Indígenas, que reúne, pela primeira vez no país, pinturas, desenhos,
cerâmicas, esculturas, vídeos e fotografias de artistas indígenas da Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador e
Peru. A proposta da exposição é trazer ao público as novas estéticas dos povos ameríndios, em que os
autores produzem arte aliando saber tradicional às modernas tecnologias.
Mira! é resultado de uma pesquisa realizada por uma equipe formada por artistas, antropólogos,
comunicadores e indigenistas, que percorreu milhares de quilômetros em busca da arte indígena latino-
americana. Foram levantadas mais de 300 obras de 75 artistas de 30 povos diferentes. Depois, um conselho
curador, composto por especialistas em artes visuais, escolheu mais de 100 obras para a exposição.
A exposição Mira! promove algo inédito no Brasil: o intercâmbio entre as novas experiências artísticas
desenvolvidas pelos povos indígenas da América do Sul. É também a oportunidade do público conhecer o
pensamento e a perspectiva indígena em meio às artes visuais contemporâneas.

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Esther
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18/06/2018 14:55:20

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