Inspirada nos quadros de Edward Hopper, Katia Marchese propõe uma viagem à intimidade das figuras femininas e solitárias, aparentemente silenciosas, do pintor estadunidense. Com versos lapidados, construções precisas, cenas em suspenso e finais arrebatadores, a autora torna audível a pulsação e complexidade dos espaços internos, dos espelhos cobertos, dos relógios sincronizados, dos lençóis provisórios. Junto aos desenhos maravilhosos de Isabela Sancho, entrevemos os sussurros e o eco de vozes secularmente tidas como histéricas, enfants, melancólicas, vozes relegadas ao universo privado e às tarefas domésticas. Entre janelas, quartos e malas, essas mulheres deixam de ser musas passivas à procura do amor romântico para se tornarem vulcões, compartilhando seus sonhos, desejos, bilhetes, frustrações. A autora se põe à escuta e, com uma escrita porosa, apresenta essas Mulheres que já não são de Hopper, mas sim de si mesmas, da rua que se entrevê ao fim da escada, da calçada que se estende sob os sapatos velozes.
(Luiza Romão)
Poemas, poesias