Nascidos Depois é um livro de conteúdo verdadeiro, com o caminho que percorri até chegar à minha história, à minha origem. Não foi uma trajetória fácil, apesar de ouvir de muitas pessoas que fui privilegiada com a adoção. Ora, isso eu sei! O problema nunca foi a minha adoção, mas o motivo pelo qual ela existiu. E esse sofrimento somente eu sei dosar as proporções de danos que causou. Ter a consciência de que houve uma separação dos país no nascimento - porque eles eram pacientes de hanseníase e, portanto, proibidos de serem reconhecidos como seres humanos - mostra-me que eu também, por ali nascer, era algo repugnante. Sinceramente, duvido que isso não cause dor.
Porém, com danos ou não, jamais imaginei que uma história, uma única história, poderia transformar tantas outras. Quando iniciei as oficinas para chamar os outros filhos separados à luta por uma indenização do Governo Federal - reparação mais do que justa e que está demorando muito, uma vez que tudo já foi feito - descobri uma força interior imensamente recompensável.
Bati em muitas portas, sacrifiquei minha vida pessoal até o limite do insuportável, abandonei minha zona de conforto, mas nunca desisti da publicação deste livro, porque a certeza é a minha maior arma para vencer os obstáculos.
Finalmente, por meio da Fundação Paulista contra a Hanseníase, cheguei à edição do livro.
Como sempre, estou pronta para novas lutas, mas agora sei que, apesar de algumas portas se fecharem, outras estarão abertas e continuarei a falar sobre a hanseníase e todos os problemas sociais que as políticas higienistas não lograram mensurar.
Agradeço à Fundação Paulista contra a Hanseníase a confiança nesta parceria em mais uma edição.
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