Navios negreiros, lançamento de Edições SM, reúne num único volume a versão integral de um dos mais importantes poemas da literatura brasileira, o “Navio negreiro”, do baiano Castro Alves, precedido do poema homônimo de Heinrich Heine, escritor romântico alemão. A despeito da importância do tráfico de escravos como tema comum – e do trabalho interdisciplinar com a área de história – a reunião desses autores, inédita no país, enseja uma análise comparativa entre diferentes apropriações de um fato histórico cujas consequências ainda são visíveis no Brasil contemporâneo.
O poema de Castro Alves, publicado em 1869, é essencialmente lírico, revelando muito mais sobre o narrador que sobre o evento narrado. Em contrapartida, o poema de Heine, surgido em 1854, tem caráter épico-narrativo: nele o mundo objetivo se impõe sobre o narrador, sendo reforçado pelos diálogos em voz direta. De um lado, temos os movimentos subjetivos de um narrador misturado à natureza – unidade desfeita pelo encontro do poeta com o navio, que dá origem a interpelações angustiadas, de forte teor oratório. Já no poema de Heine, desde o início a natureza está mancomunada com a corrupção humana: os tubarões e traficantes se irmanam na destruição da “negra mercancia”. De um lado, o apelo moral e humanitário do poeta condoreiro, ícone das lutas abolicionistas no Brasil; do outro, o humor negro, a sátira dolorosa (tão moderna aos olhos de hoje) de um alemão nos alvores do realismo.
A edição acompanha prefácio, notas aos versos e um anexo final elaborados pela organizadora, com dados biográficos sobre os poetas, informações sobre o contexto histórico de suas obras e comentários sobre a estrutura formal dos poemas.
Sobre os autores e o ilustrador – Castro Alves (1847-1871), poeta baiano da terceira geração romântica. Autor de Espumas flutuante; Gonzaga ou a Revolução de Minas e A cachoeira de Paulo Afonso (1876), entre outros títulos.
Heinrich Heine (1797-1856), autor de canções e baladas cujos versos figuram entre os mais célebres da poesia alemã. Exilado em Paris, aproximou-se do socialismo, atuou como jornalista e crítico. Livro das canções, A escola romântica e Romanceiro são algumas de suas obras.
Nascido em 1968, na cidade de São Paulo, Maurício Negro é designer, ilustrador e escritor.
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