Negrhúmus líricos possui três partes "Negrhúmus" (p. 21-78), "Húmus líricos" (p. 81-134) e "Rhúmus" (p. 137-155). A primeira parte trata, de modo geral, de modos de ver/modos de escrever, sobre a constituição do ser negro, entre o conhecimento ensinado e introjetado pela pedagogia da nação e o autoconhecimento: "procurei no espelho / nenhum rosto havia / só um branco brandia seus desaforos" (p. 46); "[...] os brancos falam de palmares / como não sendo seu / eu falo dele / porque ele sou eu" (p. 59).
A voz poética canta outras questões: versa sobre os escombros do Haiti (p. 57), sobre episódios racistas dos jogos de futebol ("Irados Uacaris", p. 27; em "Jogo", p. 33); canta os modos de sobrevivência que são mesmo uma violência obrigatória, como no poema "Jeitinho" (p. 61), fala dos males do álcool, que vitima a população negra, no poema "Constatação" (p. 70).
Versa sobre metalinguagens, como do poema "Persistência" (p. 21), que trata das possibilidades do verso, estas que dirão sobre sua essência, ou do poema "Metaforando" (p. 30), em que a metáfora, um recurso poético importante, pode servir como estratégia de esconder a discussão necessária a pleno verbo: "quanto mais se esconde o rosto / atrás da metáfora / mais elogios / e não é de graça [...] é preciso esconder / escrevendo certo sem linhas tortas / esta conversa sobre raça / que eles não suportam" / ter o rosto atrás da metáfora / a fórmula / de branquear a diáspora". Vemos também que o ponto de referência da voz poética parte não do branco ao negro, mas perfaz um outro caminho, tendo o negro como ponto de partida. Assim, o branco brasileiro, "euroquases" (p. 36), cuja cor alva é dada como padrão nessa hipocrisia nacional, é este ser desbotado, sobre o qual não se discute, como canta o poema "Tabu": "como se pecado fosse / ninguém fala de brancos" (p. 34).
* Gustavo Tanus, bacharel e licenciado em Letras/português, bacharel em Edição, é pesquisador do NEIA/UFMG, e mestrando em Teoria da Literatura e Literatura Comparada na UFMG.
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