Nemo mostra-se, mesmo que implicitamente. Proclama ao mundo seu mundo. Porém, parece invisível. Nestas horas todas as coisas tendem a recuar, afastando-se. O precipício abre-se. Todas as coisas gritam: pare!, pare!, não obstante, tudo continua como dantes. O que fazer? Por que ninguém vê? Por que ninguém percebe? Por que ninguém se importa? Por quê? Têm medo? Serão todos insensíveis a tal ponto?
Nemo sofre por não ser qualquer coisa; sofre por não ser alguma coisa; sofre por não ser uma coisa; sofre por não ser. Vive, mas há medo e incompreensão nos intervalos. Habita, mas é desabitado. Por covardia poderia até fugir do medo, mas é demasiado orgulhoso para isso. Além disso, o medo é refúgio.
Nemo luta, mas teme vencer, e assim acaba por anular-se completamente. Alguma coisa inexplicável acontece nestas horas e todas as coisas absurdas fundem-se numa mistura homogênea. Seu ódio chega a ser comovente de tão nobre.
Ele vislumbra os sofrimentos vindouros e cansa-se por antecipação. Não pode ausentar-se da familiar melancolia uma vez que não há lugar melhor onde estar. Nemo é como uma nuvem perambulando por aí, escura e sobrecarregada, pronta para desaguar de repente. A escuridão da noite personifica-se então, perpétua e coesa, convidativa ao repouso inconsciente.
Nemo ao menos resigna-se com este pensamento: Hei de perecer um dia. E a morte, espero, será a cessação.
Ele sorri sem alegria.
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