Neuro-Alquimia

Neuro-Alquimia Sean Anderson


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Neuro-Alquimia





Nem sempre somos seletivos, de modo racional, diante dos estímulos do ambiente. Mas estamos inevitavelmente sujeitos a eles. Será que há determinados sentimentos, instintos, preferências, mais legítimos do que outros, apenas porque não podemos evitá-los com exercício do raciocínio lógico? E será que, às vezes, não é apenas assim (com pensar, e muito arduamente) que podemos evitá-los?


Neste paralelo (eu leria as linhas anteriores novamente), qual a diferença entre um e outro quanto à legitimidade? Talvez seja uma questão que ainda não tenha merecido resposta.


Estímulos podem ser uma espécie de "alimento" para qualquer estrutura que "tenha fome", e a saciedade é um fenômeno bastante mensurável do ponto de vista "físico". Sean nos serve de poemas que desejam ser lentamente mastigados de forma romântica, sugados em suaves pedacinhos, postos sobre a língua para que derretam: alguns tão acalentadores como generosas fatias tenras da sua torta preferida; outros nos trituram, nos envolvem em saliva, nos digerem, e talvez nos incorporem de uma vez por todas. Está aqui mais um paradoxo: incorporamos coisas, e elas nos incorporam também.


A fisiologia poética de "Neuro-alquimia" se configura num emaranhado de fibras nervosas, conduzindo pulsões de vidas para todo o resto de uma malha co-dependente. Esta malha de conexões tem fim determinado, e ainda volta ao universo para compor e compor, mais e mais conexões, de modo infinito, tal como tudo na natureza.


É que é impraticável esperar que o mundo esteja pronto pra você, e vice-versa. É preciso diluir e ser diluído. A coisa toda nos põe em delicado transe, transborda do requinte, mesmo dos falsos hiatos (não seriam sinapses?) da poesia de Sean, essa autoconsciência cheia de potencial elétrico. Talvez esteja aí o segredo das coisas que nos são vitais: é um processo de mútuo consumo, como a matéria-prima da poesia que também desgasta e sacia: o mesmo que mata é o que mantém vivo o poeta. E este nobre cientista de si mesmo se permite examinar mais de perto os estados da matéria, talvez até mesmo sem saber que estamos todos condensados em sua poesia. Não com poucos anseios, não sem risco de degenerações, ausências, colapsos - e porque não ver beleza nisso também? - existe algo nos versos deste poeta que me convence de que ele sabe mais do que poderia demonstrar.

Texto de Thalita Pacini

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08/05/2014 16:53:17