Em outubro de 2001 estava eu em Monteiro Lobato, localidade ao pé da Serra da Mantiqueira, onde resido desde 2006 criando galinhas e outros bichos, quando recebi um telefonema que me trouxe de volta ao passado que já estava acomodado no arquivo morto de minha memória. Era um convite para proferir a aula inicial do Curso de Ensaios de Voo, no Centro Técnico Aeroespacial (CTA).Convite aceito missão cumprida.
Tempos depois, em contato com um irmão, após acalorada discussão por e-mail para definir quem era "O Cara", ele ou eu, veio a velha cobrança: - E as memórias mano? Mande antes que sejam póstumas. - Entendi a urgência e desde então não pensei em outra coisa.
Não é uma história da Força Aérea Brasileira (FAB), do CTA, do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), da Aerospace Research Pilot School (ARPS) ou da Embraer, e sim da minha participação pessoal e da minha família, em eventos memoráveis, segundo meu ponto de vista. Somente quero contar um pouco das minhas histórias em contato com os homens, o meio, as maquinas voadoras e a família. Memórias, "Escritos em que alguém descreve a própria vida", segundo o dicionário Aurélio.
Para começar a lembrança mais remota da minha vida veio a tona, com toda a força: em 1934, com três anos de idade, transferidos de Nova Iguaçu(RJ) para foz de Iguaçu (PR), meu pai, minha mãe, meus três irmãos e eu seguimos de trem "Maria Fumaça", com destino a São Paulo. Ao cruzar um túnel na Serra das Araras, lembro-me muito bem de que, em meio a escuridão, estrondos e fagulhas, aguardei assustado o retorno a claridade que me esperava na outra ponta.
Hoje, penso: Saberia eu, naquela minha primeira viagem, o que esperar no "fim do túnel" dos dias futuros que teria pela frente? Claro que não!