Noites Nômades

Noites Nômades Espaço e subjetividade nas culturas jovens contemporâneas


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Noites Nômades


Espaço e subjetividade nas culturas jovens contemporâneas




Um novo jeito de aproveitar a noite, namorar e se relacionar com os amigos está surgindo nas grandes cidades. E o livro Noites nômades, da socióloga Maria Isabel Mendes de Almeida e da cientista social Kátia Tracy, que a Rocco tem o prazer de lançar, mapeia este novo repertório e modo de agir da juventude, baseado em entrevistas que as autoras fizeram em festas, boates, bares e pontos de encontro da noite carioca - como os postos de gasolina. Noites nômades mostra, sem fazer qualquer julgamento contra ou a favor, que os jovens de hoje mudaram muito a maneira de ser relacionar entre si e com a vida boemia. Na primeira parte do livro, as autoras mostram, como o título sugere, que a noite de hoje é nômade: rapazes e moças não têm um ponto fixo como lugar de encontro. Quando saem para a night, como geralmente chamam os programas noturnos, nunca estão indo para um lugar específico. O que importa, antes de mais nada, é a circulação que fazem por vários pontos, incluindo aí os da chamada "pré-night", ou seja, postos de gasolina e portas de boates e restaurantes que servem como uma espécie de aquecimento para a noitada. "Estes grupos de jovens estão criando uma nova geografia para as cidades, que é muito transitória. O que importa é muito mais o trajeto do que o ponto fixo, o lugar-chave onde tudo acontece. Estes grupos não se reúnem mais por razões ideológicas, políticas ou culturais, como acontecia nos anos 60. O que interessa, para eles, é experimentar as relações com os membros do grupo", explica Maria Isabel Mendes de Almeida.



Através das entrevistas, ela e Kátia Tracy puderam identificar um glossário com gírias típicas desta geração, como "zoar" e "ficar". E chegaram à conclusão de que, para estes jovens, o encontro com o outro passa necessariamente por uma experiência física, muitas vezes efêmera. "O nomadismo destes jovens não é apenas espacial, é também psíquico. Numa mesma noite, um garoto pode beijar inúmeras meninas, flutuando de um par para outro", diz Maria Isabel. "Ficar", embora o verbo dê uma falsa idéia de permanência, é mais um indicativo da flutuação que estas tribos fazem de um encontro a outro. Outro verbos relacionados com o encontro amoroso – "chegar", "largar", "pegar" - também indicariam a importância do contato físico para esta juventude. "Há um capítulo do livro batizado de 'Parada animal'. Não há nenhum julgamento nisso, mas o fato é que esta é uma juventude avessa à reflexão. Para eles, o que importa é a vivência. E ela passa necessariamente pelo aspecto físico. A paquera não tem mais aquela elaboração romântica do passado".



Uma das entrevistadas do livro afirma que, para sua geração, "o primeiro beijo é sempre o último". As autoras usam declarações como estas para refletir sobre as diferenças desta tribo para os jovens do passado. Embora a idéia de namoro hoje esteja bastante esgarçada, as duas percebem que, por outro lado, os laços de amizade estão muito mais fortes. Se nos anos 60 era praticamente impossível um homem se aproximar de uma mulher sem que isso fosse um flerte, hoje parece ser perfeitamente natural uma amizade entre jovens de sexo diferente.



Maria Isabel e Kátia Tracy mostram que o que orienta meninos e meninas é a vontade comum de "zoar". No dicionário, o verbo que indica o ato de fazer barulho, chamar a atenção. Na noite, a maneira que as tribos usam para trocar experiências e transformar opiniões e julgamentos em uma espécie de performance, de teatro. "Zoar", para eles, é "ficar com a galera". E isto pode significar desde uma noite onde rolem apenas brincadeiras entre amigos até um momento onde os meninos "peguem" as meninas.



O livro mostra ainda as "Variações em torno do básico", demonstrando que, apesar desta flutuação espacial e psicológica, estas tribos seguem códigos rígidos. Que não passam por critérios religiosos e políticos, mas sim estéticos. Para estes meninos e meninas, quem foge do visual básico corre o risco de ser banido do grupo: "Estes jovens fazem parte de uma geração extremamente visual, que cresceu com a televisão, os jogos eletrônicos, a internet. Eles procuram ser econômicos no visual. A menina que foge daquele modelo de tons pastéis, cabelo liso e argolas é tida como alguém que comete excessos. O rapaz que bebe e perde a linha também. O grupo até cria lugares específicos, onde perder a linha é permitido: são as raves e chopadas", explica Maria Isabel.

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Everton Azeredo Carvalho
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06/06/2010 08:18:03