Nossa Senhora Dos Alagados

Nossa Senhora Dos Alagados Ruy Santos


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Nossa Senhora Dos Alagados





AO PUBLICAR em 1953 seu primeiro romance - Agua Barrenta - Ruy Santos trouxe para os leitores a região de sua infância junto às águas do São Francisco, o grande rio sertanejo que arrasta consigo um mundo amplo e telúrico de criaturas e tradições específicas, que o então estreante soube recriar com imaginação e verdade. Retornando agora com uma terceira experiência literária dentro da ficção, Ruy Santos manteve-se fiel à temática regional de sua província, transferindo embora do sertão para o meio urbano de Salvador o núcleo de interesse deste novo romance, nascido de uma realidade talvez mais áspera e contundente, desprovida daquela aura encantatória que pode cercar as histórias do grande rio, ele próprio personagem autossuficiente.
Alagados, na paisagem urbana de Salvador, é a favela sobre os mangues, verdadeiro bairro onde as ruas são pinguelas, e onde, quando a maré sobe, a água lambe os assoalhos dos barracos erguidos sobre estacas. Daí o título Nossa Senhora dos Alagados, cujo significado entretanto não deve ser antecipado, mas que parece ser um apelativo contraditório e inexplicável diante dessa crua realidade, se não fora a trama agora oculta do romance, como se a santidade da celeste invocação pudesse constituir-se em tácita aprovação a essa contingência terrestre irremediável e permanente, a exigir o constante socorro do espírito contra a matéria. Mas, embora esse mundo contundente dos Alagados venha a ser o eixo em torno do qual praticamente gira o romance, ele não é entretanto a realidade única ferida pelo romancista, posto seja o agente catalisador da ação, o pano de fundo no destino dos
personagens e do próprio título.
Para além dele, fica ainda uma outra realidade que o romancista vai dissecando, um outro microcosmo denso de perspectivas, onde a linearidade dos planos e dos cortes, ao contrário do que se poderia julgar, vitaliza e dinamiza o conteúdo da narrativa, que se desenrola conduzida por mão segura e experiente. Colocado realisticamente no tempo e no espaço, sem fugir à verdade do próprio autor, Nossa Senhora dos Alagados participa de uma visão compromissada, onde aliás o regionalismo
quase inexiste como elemento característico, em face da identidade dos problemas sociais urbanos, na verdade integrados dentro de um código comum em que só variam as designações ou denominações léxicas particulares de certos fenômenos, que se vão desdobrando entre sul, norte, nordeste, centro ou centro-oeste. A realidade é comum, cabendo ao rmancista, portanto, caracterizá-la segundo a própria vivência específica, e canonizá-la em recursos estilísticos e de composição, que respondem afinal pela sua projeção e perdurabilidade no tempo e na memória do leitor, como verdadeiro e acabado produto da melhor arte literária.

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Rafaelapbs
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