Esta coletânea é bastante representativa do conto contemporâneo produzido no Rio Grande do Norte, abrangendo nomes mais tradicionais como Tarcísio Gurgel, Francisco Sobreira e Nei Leandro de Castro, e novos como Cellina Muniz, Márcio Benjamin, Aldo Lopes de Araújo etc. Um dos critérios biográficos adotado é o de incluir autores que escrevem no Rio Grande do Norte, mesmo que nascidos em outros Estados... uma diversidade de temas e de formas estão presentes, deixando para o leitor não somente o prazer de ler bons textos narrativos, mas também o de descobrir que não é difícil traduzir os valores de linguagem de obras literárias, em elaborações próprias da análise crítica. Se gosta da memória das brincadeiras de infância, leia o conto de Nei Leandro de Castro. Se gosta de uma ficção científica que não deixa de satirizar as evoluções científicas do nosso tempo, como o smartphone e redes sociais que isolam online as pessoas, leia o conto de Carlos de Souza. O humor, pode ser detectado em alguns contos. Como no de Thiago Gonzaga e no de Manoel Onofre Jr. Dentro dos aspectos de inventividade, da linguagem, da pesquisa com formas e palavras temos Ruben G Nunes, à importância da contemplação da cena urbana vista de um bar, provocando reflexões e denúncia da solidão social, isto é feito sem desprezar a força sintáticosemântica do destaque em negrito de algumas palavras e grupos frásicos, ou a inclusão simbólica das notas musicais, substituindo o parêntese na transcriação de letras de música. O estilo de Ruben, pode-se dizer que é um estilo telegráfico-cinematográfico, bem apropriado à literatura visual que se faz hoje. No conto de Nivaldete, o que se nota é a secundariedade em si do enredo, em prol da extensão do imaginário, fluindo poeticamente.
Tem também, nesta coletânea, contos curiosos, dentro do aspecto formal. Por exemplo: o conto de Cefas Carvalho. Nesse texto, o espaço em branco do suporte/página, não se presta a comparações referentes ao tipo de literatura considerada concreta, que valoriza a funcionalidade do espaço em branco mallarmaico. Porque o conto de Cefas é um texto inconsútil, estendendo-se em parágrafo único. Não dá margem a que, depois de o leitor compreender que todas aquelas acusações são feitas a um débil mental, que não decodifica as palavras que se fizeram verbo das queixas de uma esposa, pudessem ser respondidas por uma tentativa de pedido de perdão.
Contos