O afetuoso livro das cartas

"Meu querido, agradeço0lhe por se preocupar comigo, por se comover com esses tons nostálgicos das cartas que escrevo. Ando Meio desanimada ultimamente. Mas fique tranquilo, que esse desanimo deve ser passageiro. Já tem acontecido várias vezes. Ora demora muito tempo para passar, ora passa logo. Mas sempre passa."
"Pena que seu avô Laerte não esteja na foto que você me enviou. Com certeza, já tinha falecido. Vejo isso estampado no rosto de Izolda. Você e as demais pessoas podem até nem perceber, mas eu percebo. Podem até pensar que Izolda é muito feliz, que o marido hoje é coisa do passado. Mas eu sei que não. Sei que, por trás dessa placidez de setenta e seis anos, a pobre Izolda sente falta de alguém que converse com ela antes de dormir, que lhe cubra o corpo nas friagens da madrugada, que feche as portas e janelas da casa e lhe passe a segurança de que toda mulher precisa. Sou sensível às fotografias da solidão, meu primo."

Literatura Brasileira / Romance