As rais da loucura, de que tanto falam, onde será que ficam? Ninguém sabe ao certo. Suspeita-se, porém, que foram traçadas no quintal do jovem Benício, que, um dia, de tanto ler sem parar, atravessou a tênue fronteira entre a lucidez e a sandice, para nunca mais retroceder.
Os contos reunidos neste livro são daqueles que poderíamos ter ouvido da boca de uma avó querida, ou que gostaríamos de contar aos amigos para tornar mais leve a realidade nada lúdica dos nossos dias apressados.
Os personagens são por vezes excêntricos, e suas estórias pitorescas remetem-nos àquelas contadas ainda oralmente nos sertões afora, onde a vida calma, do campo, comporta um tempo mais dilatado e próprio para a contação de causos.
Padre Pita, Bideda, Maria Chambisca, Vicente Ié são alguns desses seres que logo criam empatia com o leitor, porque, além de humanos, trazem certo traço de hilaridade, remetendo ao folclore, compondo uma espécie de lenda com a qual parecemos estar desde sempre familiarizados.
No entanto, o ambiente mítico, dos circos do interior, das festas de São João, do arrasta-pé, também mostra seu lado mais duro, da seca, da miséria, da ignorância, da emigração como única saída, mas nunca com roupagem melodramática ou tom pesado.