A peça de Flaubert tem aspectos das comédias clássicas, o que a torna um texto leve e divertido. E no palco pode se transformar num espetáculo, respeitando ambientes, personagens e roupas de época, ou estilizado para algum universo mais moderno, uma vez que mantém características de atualidade muito próximas do público de hoje: trocasde favores, paixões, traições, eleitores pidões, jogo baixo na luta pelo poder, enfim, a rede de intrigas de uma eleição. Aliás, esse é o grande mérito do texto, que de certa maneira nos mostra que “Ainda somos os mesmos...”, como já escreveu Belchior. A peça tem bons personagens: o vilão, mistura de esperto e bem falante; o jornalista apaixonado, o candidato, seu adversário, os idiotas cativos. Pena que os personagens femininos são bem século XIX – impossível, mesmo para um Flaubert, fugir muito de sua época. O mundo era dos homens. No meio, estão os pontos de maior intriga, onde o texto cresce. E os leitores vão, por intuição e vivência, antecipando o fim
a partir do oportunismo e ganância dos eleitores. O mais importante é que o texto, além da curiosidade sobre o autor Gustave Flaubert, que pouca gente sabe que escreveu essa peça, oferece várias possibilidades no palco. Com esta obra inédita de Flaubert, agora em português, ganham os leitores e o teatro brasileiro.
Literatura Estrangeira