O leitor viciado nas histórias que apresentam uma sequencia lógica de fatos, que o autor coordena de acordo com o interesse da narração, quando se defronta pela primeira vez com o mundo de Kafka, espanta-se, sente-se atraído e repelido. Perde-se certamente nos meandros do absurdo, que está em toda a parte, em cada gesto, em cada palavra, nos diálogos intrinsecamente consequentes mas completamente inócuos no entrelaçamento dos fatos. Os personagens estão à procura de algo, à espera de qualquer coisa, mas não há necessidade de se definir o que seja. As suas ligações não são duradouras, nem fazem planos para o futuro, porque não existe nenhuma dimensão de espaço ou tempo a preencher com seus sonhos. Inesperadamente, numa ilação, numa cena a princípio inexpressiva, identificamo-nos por completo com os tipos humanos que divagam em suas páginas.
Ficção / Literatura Estrangeira / Romance