Três viajantes americanos tentando desvendar os mistérios do deserto do Saara e encontrando, a cada passo, deslumbramento, perturbação, poeira, loucura e no final, a morte. O céu que nos protege poderia ser definido como a obra-prima do escritor e compositor Paul Bowles. Mas seria resumir demais as muitas qualidades e leituras que este livro, publicado em 1949 e best-seller incontestável do pós-guerra, possibilita. Saudada pelo teatrólogo Tennesse Williams como uma prova de que um autor americano podia ser tão tenso e profundo quanto Sartre e Jean Genet, a obra de Paul Bowles foi uma espécie de tótem da geração on-the-road de Ginsberg e Corso, e atravessou décadas sendo lido por entusiasmados fãs que pareciam, a quem não conhecia a obra, "uns iniciados".
Foi por ser preciosidade cultivada por poucos que o diretor italiano Bernardo Bertolucci adiou durante anos sua leitura, certo de que o livro não o encantaria. Foi por ser a obra que é que a leitura despertou em Bertolucci o desejo imediato de transformá-la em cinema, com a convicção de que O céu que nos protege é um dos raros casos verdadeiros de criação que antecipa a evolução dos tempos, de livro escrito numa década, mas só realmente entendido muitas décadas depois.
Os personagens de O céu que nos protege, Port, Kit e Tunner são contemporâneos em suas angústias, suas dúvidas, nas duas viagens que empreendem paralelamente. A primeira, ao interior de si mesmos, a outra, externa, ao deserto que parece não findar, em direção ao ponto do "não retorno", sugerido pela citação de Kafka que abre a terceira parte do livro. É impossível, ao ler a história, não fazer uma terceira viagem. À biografia do casal Jane e Paul Bowles, ambos escritores, originais, capazes de desvendar universos diferentes em suas criações. Jane, talento indomado, acabou louca num hospício em Málaga. Paul, compositor que transportou música para um texto acima de tudo instigante.
Ficção / Literatura Estrangeira / Romance