Este romance de Alain Robbe-Grillet marca o apogeu da evolução estética do autor na estruturação de uma nova corrente do romance francês a que se tem chamado novo realismo e "roman du regard". Esta última designação seria mais ajustada. Como observou William Cooper, a técnica romanesca de Robbe-Grillet pode definir-se como um sedimentar de "impressões visuais", as impressões duns olhos isolados, tão sós, que se tem a sensação de que atrás deles não existe cabeça.
Em O ciúme há um narrador invisível, uns olhos que circuvangueiam, lentos e silenciosos, pelo pequeno mundo que os atrai numa obsessão trágica. O leitor não o vê, não o ouve, mas pressente-o sempre pelo vazio que sua ausência abre: é o ciúme que a si próprio se constrói, se realiza, se avoluma, agarrando-se aos mínimos objectos que constituem o habitat dum casal e dum amigo, repetindo-se nas suas sensações visuais, simples sensações visuais que se vão acumulando sem quaisquer comentários e sem noção de tempo, pois o olhar não tem memória. O triângulo amoroso fica, desta forma, reduzido a dois termos — a mulher e o amigo; o marido é a ausência medonha que tudo acompanha sem reagir porque vegeta na suspeita apenas, e é esta suspeita que procura materializar. Consegui-lo-á?
Literatura Estrangeira / Romance