O Elo Perdido

O Elo Perdido Francisco de Oliveira


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O Elo Perdido


Classe e identidade de classe




O Elo Perdido é um instigante ensaio sobre o problema da definição das classes sociais em Salvador, Bahia. O propósito de Francisco de Oliveira, ao examinar as conseqüências sociais da industrialização do Nordeste a partir dos anos sessenta, “não é tanto a demonstração das hipóteses levantadas, mas a sugestão de pistas para o entendimento da questão: há classes sociais em Salvador”. E realmente o autor vai ser fiel a seu objetivo. Quando terminamos a leitura do livro não temos as respostas, mas temos muitas sugestões e novas perguntas. O problema fundamental que Francisco de Oliveira procura analisar é o da constituição das classes sociais em Salvador. Para isto ele divide a história da região metropolitana em dois períodos: o grande período colonial e escravocrata, que só vai terminar de fato nos anos cinqüenta, e o período da industrialização moderna, a partir de 1960. A perspectiva de Francisco de Oliveira é sempre dialética e marxista. Embora a análise se concentre sobre Salvador, acaba tendo uma amplitude muito maior. No Nordeste a classe operária será “produzida” enquanto a burguesia será o resultado de transformação da antiga aristocracia.
Francisco de Oliveira não está interessado apenas na definição econômica das classes sociais, na forma de sua inserção nas relações de produção. Ele se preocupa particularmente com a dimensão política das classes, que – a partir de uma proposta teórica de Bourdieu – identifica com a idéia da subjetividade das suas representações vis-a-vis as outras classes.
O capítulo mais importante do livro é aquele em que discute “classes e representações de classes”, a partir de instalações da Petrobrás na Bahia. A nova burguesia ou é o resultado da transformação da antiga oligarquia ou a face ausente do capitalismo paulista e multinacional. A nova classe operária, formada a partir da industrialização subsidiada da região, não tem consciência de classe, seja devido a sua rotatividade, relacionada com a imensa oferta de mão-de-obra, seja devido ao nacionalismo ligado ao problema do monopólio do petróleo, seja devido ao discurso “nordestino” e à ideologia da “baianidade”, que obscurecem os conflitos de classe. A análise do “setor informal”, intimamente articulado com o setor capitalista, é brilhante. Para o autor os
trabalhadores do “informal” estão colocados no último degrau do proletariado, mas não são operários, não vendem força de trabalho porque não há trabalha abstrato nem troca de equivalentes nesse setor. A análise das classes médias é particularmente inconclusiva. Há uma inteligente análise do surgimento das classes médias a partir da desespecialização do operário e do empresário, há a demonstração de como as “classes médias” burocráticas ou tecnoburocráticas surgem explosivamente, de um dia para outro, no Nordeste.
Em qualquer hipótese, com O Elo Perdido Francisco de Oliveira mostra mais uma vez que pensa com inteligência, criatividade e independência a sociedade e a economia brasileira.
por Luis Carlos Bresser-Pereira

Sociologia

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Eder-
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