“Artistas e santos são quase a mesma coisa. Cada um expurga os seus pecados e demônios da maneira que lhes convém.” É com essa lógica que Ney Anderson expurga literatura nos 33 contos de seu livro de estreia. Um Recife urbano é não apenas cenário, como purgatório para seus personagens, que estão sempre pagando pecados e esbarrando com demônios, em narrativas onde a escrita e os escritores são vistos como uma tábua de salvação.
Anderson tem um olhar afiado para detalhes, um observador mordaz para vidas alheias, com uma sensibilidade ao mesmo tempo lírica e pop. É uma visão atualíssima do nordeste, pouco estabelecida ainda no cenário literário, que nos aproxima do mundo do autor e nos tira do eixo". – Santiago Nazarian
"Ney Anderson supre, com esse livro, uma dívida que nós, escritores de hoje em dia, tínhamos com o Recife: transformar seu centro antigo em literatura contemporânea. As próprias narrativas de histórias sobrepostas e interligadas umas às outras, entrecortadas pelo Capibaribe e seus mistérios, salpicadas em cada esquina de referências literárias que estão impregnadas na sua essência - como Carrero, Gilvan Lemos e Clarice Lispector - são uma reprodução da cidade que nos habita.
Mistério, sensualidade, lirismo e violência urbana são elementos habilmente enxertados pelo autor no vazio - no espetacular vazio - existencial dos seus personagens, sempre em confronto com um dos temas mais universais da literatura: a morte.
O Espetáculo da Ausência também flerta com o gênero policial, sem, contudo, seguir sua fórmula clássica, pois seu compromisso não é a resolução completa e cartesiana dos enigmas postos - já que se propõe mais a surpreender e encantar do que convencer. Afinal, como diria o personagem de um dos seus contos, parecer é muito melhor do que existir" – Andrea Nunes
Contos / Ficção