Júlio estava feliz da vida. Tinha entregado a documentação exigida para a solicitação da aposentadoria ao Departamento de Pessoal da Universidade, e disseram-lhe que não havia nenhuma pendência. O edital seria publicado no Diário Oficial dali a uns dois ou três meses. Não era para estar eufórico? Ele vinha dirigindo o seu jipe pelas ruas do campus, olhando para a cidade universitária, as pessoas, as árvores, os prédios, falando sozinho, "o campus é um lugar lindo, tem uma bela paisagem nemorosa, estive aqui por mais de 30 anos e nunca tinha olhado assim para esse lugar". Era o seu local de trabalho e poucas vezes tinha se dirigido para lá com prazer. "Aqui trabalhei, conheci pessoas, mas não deixo amigos, nem amores. O que será que vim fazer aqui? Certo, vim trabalhar, 'correr a carreira', mas será que deveria ter passado a vida toda fazendo isso? Será que fiz o que deveria ter feito na vida?", interrogava-se, com uma ponta de arrependimento.
Ficção / Literatura Brasileira