O Incrível Meneghetti

"(...) Podemos dizer que, embora não sendo letrado, nem politicamente engajado, Meneghetti era um autêntico anarquista proudhoniano. Furtava, de preferência, jóias, só penetrava em palacetes e residências luxuosas, e jamais usou de violência contra pessoas. 'Jamais cometeu a covardia de assustar uma dama ou fazer chorar uma criança'. Embora temido pelos ricos, contava com a simpatia de enorme parcela da população que, abertamente, torcia por ele, nos seus embates com a polícia, a qual driblava de forma quase mágica, como se pudesse volatizar-se. Inteligente e irreverente, ousou, na Biblioteca da Penitenciária, lançar à margem de um livro de Lombroso, criador da Antropologia Criminal, a memorável observação: 'bruta bestia'. O apaixonado e romântico personagem, que se deixava paralisar pela ternura, ao presenciar um inimigo afagando os cabelos da netinha, o flexível gato dos telhados, e espertíssimo ladrão, o ágil contorcionista e prestidigitador, o corajoso e duro Meneghetti, que enfrentava estoicamente a tortura sádica dos paus-de-arara e dos choques elétricos, encontrou, finalmente, o seu autor."