Os dias azuis terminaram para Romeu. A velhice trouxe-lhe os azedos e amargos. Dinheiro, amigos, mulheres, tudo foi ficando pelo caminho. O que sobrou foi uma pilha de destroços. Caixas de remédios vazias, fotos descoloridas e bilhetes contendo ideias abandonadas. Hoje, a rotina milimétrica é sua tábua de salvação. Agarra-se aos rituais do mínimo, procurando com isso fixar alicerces. Nessa tentativa descobre companheiros de naufrágio, homens que mesmo tendo metade de sua idade, atravessam a vida como uma garrafa que é conduzida pela correnteza. Uma ponta de esperança renasce quando conhece a vendedora de uma loja de sucos. Claudete, moça linda, cheia de luz e pesos para carregar. Ela torna-se primeiro parte, depois sua própria vida. Transformação acontece nos dois sentidos. Dissolvem-se suas certezas, e ela pega para si parte do fardo de Romeu. Eles acabam dividindo seus fantasmas e descobrindo nos reflexos do espelho a imagem nunca imaginada.