Trabalhar comunicando. Nossos tempos conheceram uma transformação profunda dos processos produtivos. Enquanto a cadeia de montagem excluía toda e qualquer forma de linguagem como fator diretamente produtivo. hoje não há produção sem comunicação: pelo contrário. trabalho e informação se sobrepõem necessariamente para garantir o máximo efeito no menor tempo possível. Eis aí o advento das novas tecnologias como verdadeiras e próprias máquinas lingüísticas. Esta revolução impôs um novo modelo de trabalhador. não mais especializado. mas versátil. capaz de se adaptar a novas exigências. Se no passado triunfava uma produção padronizada em massa (foi Henry Ford que. no início do século. organizou nos Estados Unidos a chamada cadeia de montagem). hoje se impõem produtos diferenciados e variados segundo os gostos dos consumidores. É este o modelo pós-fordista sobre o qual Christian Marazzi trata em O Lugar das Meias. percorrendo os seus desenvolvimentos. das origens japonesas até as inovações relacionadas às esferas políticas e administrativas cada vez mais diretamente envolvidas na determinação do processo produtivo e de suas conseqüências. O “lugar em que se guardam as meias” não é. portanto. um ensaio estritamente voltado para a crítica econômica uma vez que investe em problemáticas relativas à nossa vida social. à teoria política. às instituições democráticas. às relações interpessoais. ao papel da linguagem na democracia liberal. E é exatamente a irrupção da linguagem na esfera produtiva. com todas as suas consequências. o objeto privilegiado de O Lugar das Meias. que oscila entre filosofia política. teoria econômica e crítica da sociedade contemporânea. Uma sociedade que exalta a esfera publicitária corre o risco. ao mesmo tempo. de permanecer órfã de uma comunidade política própria e verdadeira. Isto com as contradições —freqüentemente dramáticas — bem visíveis da atualidade.
Economia, Finanças