O mal das flores

O mal das flores Gabriela Lopes de Azevedo


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O mal das flores





Poder tatear um poema, uma flor, uma cidade, alguns corpos, soltos, ou uma casa inteira de mulheres é também poder e precisar confiar no caminho silencioso da transformação. Emergir do atravessamento que a literatura de Gabriela nos causa: impossível sair daqui como éramos antes. O mal das flores, além de nos enganar das possibilidades do asfalto, dos afetos passageiros, das desobediências civis desejadas, também nos seduz a tatear o que a sombra de uma flor nos causa, a textura de um fiapo nos dentes, o peso de existir e carregar o mistério da hereditariedade. Encontrar um rato morto ou a serendipidade no desabrochar do caminho é espalhar raízes confiantes através de versos, seja no escuro solitário de um lago pantanoso, no jardim selvagem ou no “transtorno sonoro da cidade nua”. Gabriela rega isso tão bem que nos convida, com sementes nas mãos, a olhar de perto e cruamente a beleza da força das relações; o abandono, o desejo, o tédio, um roubo na calada da noite, o casamento irrecusável, entranhas adentro, o tísico, o alérgico, os exauridos. Olheiras fundas roxas, inexoráveis fantasmas, unhas quebradas, pelos, celulites. “Mal de ventre, má comida”. Males que te aprisionam com garras quando se apresentam como flores. Depois, uma casa, “concreto afeto cimento”. “Cortinas empoeiradas de rancor”: uma mãe, vendo o entorno de quem nunca esteve ali, uma irmã solteira, desimportante para o amor e atrapalhando heróis, seja ela calada ou tagarela, uma irmã casada que, por tantos motivos, enlouquece; uma avó, uma tia, uma prima. A filha mais velha, a filha mais nova, a maternidade. A aspereza da doença, dos crimes cometidos dentro dos cômodos, da competição sussurrada, quase não dita, das mesquinharias típicas e dolorosas e surpreendentes dos vínculos. Uma leal confusão de afetos. A cidade dentro da família. Verdadeiro laço emaranhado de buquê que a gente compra para si mesma, para abafar as dores e ter esperança num girassol andarilho-da-terra ou numa echinacea laevigata. Que o leitor se prepare para um livro belo, amargo, cheio de delicadezas e assombrações, tudo junto e direcionado em busca de uma fresta em que seja possível entrar a luz.

Greta Coutinho,
artista plástica

Poemas, poesias

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