Uma trágica coincidência: às vésperas da editora Opera Graphica mandar para as livrarias o álbum em quadrinhos O Messias, explodiu uma série de atentados terroristas em vários estados do Brasil, onde o mais prejudicado foi São Paulo, principalmente a capital paulista.
Em 128 páginas, os dois artistas contam uma história que parece uma previsão macabra sobre a guerra do tráfico nas grandes cidades: no Rio de Janeiro de um tempo muito próximo do presente, um chefe do tráfico de drogas se imagina com poderes divinos para reunir todos os morros da cidade e declarar guerra civil aos poderes do Estado.
“Temia que algo assim acontecesse antes que a edição fosse concluída”, afirma Gonçalo. A edição levou oito anos para ser produzida. Chegou a ser iniciada por três artistas em momentos diferentes, que desistiram da empreitada. Até que, em 2002, Flávio Luiz topou o desafio e, num lento processo de produção, levou três anos para finalizá-la. Na história, não existe um único diálogo, todos os quadrinhos são mudos, porém têm onomatopéias. “O propósito é mostrar que o crime se banaliza, organiza e avança ante o silêncio das autoridades, até que explode, como está acontecendo em São Paulo”, acrescenta.
Na trama, os autores não acreditam que o crime seja realmente organizado nas grandes cidades brasileiras, embora algumas facções criminosas se identifiquem com determinadas siglas – CV, PCC etc. E temem que, um dia, antes de se chegar a sensibilizar os políticos sobre a dimensão do avanço dos criminosos, surja alguém com aura de Messias, com carisma suficiente para se apropriar desse papel divino.
“Nesse instante, não importa por que meios, o morro finalmente descerá para ocupar o espaço que acredita lhe ser de direito. E em todas as capitais, será instalada uma sangrenta guerra civil”, diz o prólogo. “Que esta aventura em quadrinhos, muda, como o descaso das autoridades, sirva, de alguma forma, como um alerta ou mesmo uma premonição”, afirma a dupla.
Diz a sinopse: Um dia, do céu virá um sinal divino. E Ele voltará. Com o som das trombetas do Juízo Final, usará o Evangelho para arrebatar um numeroso rebanho, pela promessa de que, juntos, todos repartirão o pão e o vinho em partes iguais para que saciem sua fome e sua sede. Mais que isso, prometerá um banquete dos deuses, sem data para acabar. Unidos pela palavra de Deus, descerão o morro para pregar sua palavra e, se necessário, tomar o que é seu. Ele voltará, sim, promete o Novo Testamento. Mas nunca se precisou nem quando nem onde. E esse dia finalmente chegou. Ajoelhem-se todos diante de O Messias.