"Nunca pôs os pés na Zona da Mata. Apenas aprendeu na escola que as plantações de cana-de-açúcar substituíram ali uma imensa floresta tropical outrora povoada por índios. Seria incapaz de localizar Quipapá num mapa do estado. Nunca se aventurou a mais de trinta quilômetros do Recife. Tem uma visão um tanto apocalíptica do mundo rural: ela se reduz ao que leu no jornal ou viu na televisão. Imagina o interior de Pernambuco como uma selva sanguinária onde a única lei em vigor é a lei do mais forte. E onde potentados medievais esmagam pela violência e pelo suborno massas de miseráveis ignorantes e desdentados por chuparem cana o dia inteiro – sempre prontos a se entrematarem a machadadas por um pedaço de pão ou um olhar de soslaio."
Recife, 1987. No escaldante e abafado outono nordestino, Alberico Cruz, um homem comum, corretor de imóveis, é testemunha de um crime. De principal suspeito, torna-se o culpado ideal. Acusado de assassinato, nosso anti-herói se vê brutalmente lançado no inferno da prisão. Sua luta pela sobrevivência o introduz em um mundo de violência do qual nada conhece: o mundo dos senhores da cana-de-açúcar, às portas do sertão pernambucano.
Uma crítica social implacável, na qual a verdade tem pouco espaço, e a honestidade, valor meramente opcional, não resiste ao poder dos grandes. Um romance que joga uma luz crua sobre um país cheio de contradições, onde a violência social predomina e forças antagônicas se enfrentam brutalmente.
Romance policial