O pesadelo de Descartes

O pesadelo de Descartes João de Fernandes Teixeira


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O pesadelo de Descartes


Do mundo mecânico à Inteligência Artificial




Karl Marx (1818-1883) afirmou, certa vez, que o comunismo era um fantasma que rondava a Europa no século XIX. Será que a automação é um fantasma que ronda o século XXI? Será que seremos substituídos pelas máquinas que inventamos? Na Idade Média, o conhecimento não era necessário para a sobrevivência. A habilidade prática de cultivar a terra, cujos segredos eram transmitidos de pai para filho, era tudo o que bastava. O que hoje chamamos de conhecimento era restrito a alguns especialistas, na sua maioria religiosos. Havia poucos livros, guardados a sete chaves nas universidades. A imprensa ainda não existia e, assim, para obter um livro era necessário copiá-lo à mão. A revolução científica, que se iniciou no século XVII, trouxe uma onda de tecnificação e, com ela, as revoluções na agricultura e o surgimento da indústria. Os livros já circulavam, embora ainda fossem escassos. Nessa época, conhecida como a Era Moderna, obter um emprego era algo diretamente relacionado a possuir um conhecimento, uma formação específica que garantia um lugar na indústria ou no comércio. A Era Moderna ou a modernidade durou até a metade do século passado. Em seguida, ingressamos na era Pós-Moderna, embora até hoje não exista um consenso entre filósofos, historiadores e outros especialistas, sobre o que isso significa. A mecanização da agricultura esvaziou o campo. O êxodo rural levou ao crescimento das cidades e ao surgimento de várias profissões típicas da classe média, como os funcionários públicos, os médicos, os advogados, os engenheiros, os bancários e os comerciários. Mas agora todas essas profissões correm o risco de serem extintas. Um dos nossos maiores temores é a percepção de nossa redundância em relação às máquinas. Ter um emprego passou a ser um privilégio e, por isso, os que ainda os têm passaram a ter de trabalhar muito mais horas por dia, sob ameaça permanente de demissão. A diminuição do trabalho muscular ou mental, seria comemorada nas sociedades antigas ou medievais. Na Idade Média as pessoas só trabalhavam parte da semana e metade do ano. Nessa época, a possibilidade de trabalhar menos era sempre um alívio bem-vindo. No entanto, no mundo contemporâneo, a diminuição do trabalho se tornou, paradoxalmente, um fantasma temível. Caminhando na direção inversa do que seria esperado, todos desejam trabalhar, ter um emprego. A criação de vagas passou a ser comemorada e se tornou moeda de troca na política. Para se eleger, um político precisa sempre prometer a criação de empregos.

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Lucas1429
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