"Eu estava humildemente, vendendo minhas pipocas na esquina do Jornal do Brasil, quando chega Ziraldo e solta uma das suas, como direi? mágicas. Pega das pipocas, feitas de simples substantivos, conjunções, vírgulas, essas coisas, e transforma tudo em vida de movimento acelerado. Cada palavra ficou valendo mil, cada frase uma casa-da-moeda de imagens enérgicas. Surgiram caras, gestos, atitudes, a verdade nua, o escondido atrás das caras, aquilo que eu gostaria de mostrar se tivesse o dom do traço, um traço que fosse bisturi, relâmpago, raio laser - em suma: o traço de Ziraldo. Este livro de quem é? Meu? Dele? Nosso? Ou do Diabo, que costuma inspirar Ziraldo, o Angélico, baixado a Caratinga-Universo para cumprir a eterna lei da caricatura: revelar, desmitificar, castigar, alimentar, pela visão crítica totalmente descompromissada, a frágil esperança do homem? Não sei ao certo o que seja este livro, que converte duas coisas numa única: letra e linha unificadas em olho. Um olho e sua obrigação de ver. Meu parceiro Ziraldo, peralta, brincando de unificar gêneros e instrumentos de expressão, é acima de tudo o homem que vê." - Carlos Drummond de Andrade
Crônicas / Humor, Comédia