O povo vai à escola

É muito difundida neste país a crença de que o povo, os trabalhadores, os moradores pobres da periferia das grandes cidades, são ignorantes e gostam da sua ignorância. Este livro, entretanto, documenta e mostra com clareza que tal concepção expressa, apenas, o preconceito das classes dominantes, das elites letradas e, até dos próprios educadores. Não é preciso enveredar por explicações acadêmicas para mostrar que as classes populares dispõem de uma cultura rica e variada; que a sua pretensa ignorância não é mais do que a privação cultural imposta pela elitização do saber, pelo monopólio da escola e do conhecimento pelas classes dominantes e pelos burocratas da educação. Marília Pontes Sposito, com este trabalho sério e bem cuidado, nos mostra o outro lado à questão: o povo, excluído da escola, sabe o que a escola significa e desencadeia uma luta ampla, demorada, paciente, para ter acesso a ela, para democratizar o ensino. Mesmo que para isso se aproveite do populismo, barganhando politicamente para fazer da escola uma escola democrática. Felizmente, esse grande episódio das lutas populares, com seus avanços e recuos, está agora documentado e explicado neste livro. O grande mito de que a escola vai ao povo não encobre aqui a verdade de que, através de suas lutas e reivindicações, é o povo que vai à escola.