O rasgão no real é um pequeno ensaio sobre ficção científica e metalinguagem, escrito em 2001. O ensaio procura examinar algumas das técnicas da metalinguagem literária, e o modo como elas se aplicam à ficção científica. A metalinguagem é qualquer processo de criação artística em que as técnicas e os procedimentos criativos são revelados na obra, em vez de ficarem ocultos. Ao invés de exibir apenas a obra pronta, o artista exibe também o modo como ela foi (ou está sendo) feita; ao invés de tentar oferecer a obra como um pedaço da Realidade, demonstra de modo explícito o seu caráter de “coisa artificial”; ao invés de ocultar-se por trás da obra pronta, interpõe-se entre ela e o público, interfere, dialoga, comenta.
Um conceito importante que abordo é o da “Mídia Ambiente”, ou seja, o meio ambiente artificial criado à nossa volta pela TV, pelo cinema, pela publicidade, pelas imagens e mensagens cada vez mais invasivas em nosso cotidiano. Estamos cada vez mais imersos em formas híbridas do Real e do Artificial. Temos dificuldade em distinguir entre “o que aconteceu de verdade” e o que “foi mostrado”, porque temos cada vez mais acesso a representações da Realidade, e menos acesso à Realidade em primeira mão.
Um dos meus pontos de partida foi o livro Time Out of Joint de Philip K. Dick, que me parece um exemplo quase esquizóide de romance mainstream e romance de FC misturados um ao outro. Duas concepções do “real literário” que se excluem mutuamente, numa mesma história, e que exprimem a tortura mental de Dick numa época em que trabalhava como um louco nos dois gêneros.
Ficção científica