Alguns dizem que nos sonhos não existem senão engano e mentira, mas as vezes se podem ter sonhos que não mentem e que, com o passar do tempo, revelam-se verdadeiros. Para demonstrar Isso, apresento um autor que se chamava Macróbio: ele não tomou os sonhos como brincadeiras, pelo contrário, escreveu uma obra sobre o sonho que teve o rei Cipião.
Apesar de tudo, se alguém pensa ou diz que é loucura e ignorância acreditar naquilo que sonhou, quem assim considera, que me tenha por louco, pois sei que o sonho adverte o bem e o mal que acontecera as gentes. Além disso, são muitos os que durante a noite sonham coisas obscuras, as quais depois se apresentam com clareza.
No vigésimo ano de minha vida, idade em que o Amor cobra imposto aos jovens, uma noite me deitei, como de costume, e dormi profundamente. E tive um sonho formosíssimo que muito me agradou: não houve nada que depois não tenha ocorrido tal e qual o sonho me mostrara. Agora desejo contá-lo em versos para agradar aos corações, pois assim me pede e ordena o Amor.
Se alguém deseja saber como deve ser chamado o livro que agora início, ele se chamará O Romance da Rosa, e nele estão contidas todas as artes do Amor. O assunto é bom e novo; Deus queira que o receba com gosto aquela por quem inicio essa obra: ela vale tanto e é tão digna de ser amada que deve se chamar Rosa.