"Nos contos de Rodrigo Melo, a predominância é de figuras que não se encaixam nas engrenagens, visivelmente desconfortáveis em ambientes que flertam com a hostilidade. Tanto nos centros urbanos quanto em cidades interioranas, os enredos são marcados por autênticos outsiders, cuja naturalidade é um inequívoco mérito autoral.
Tudo isso apresentado em narrativas breves, impregnadas por diálogos construídos sob uma fina camada de melancolia. Tão breves que em alguns momentos podemos nos sentir abandonados à própria sorte, impelidos a usar nossa imaginação para ultrapassar o limite dos desfechos. Esta economia pode provocar uma sensação contraditória nos leitores. Mal se descobrem envolvidos pelo mundo dolorido onde vagam torturadores e homens em crise, e eis que tudo se acaba. Não há outro jeito. É começar, desde já, a esperar pelo próximo livro.
Graciliano Ramos disse um dia que para escrever ficção era preciso compreender que 'arte é sangue, é carne. Além disso, não há nada'. Na sua estreia como contista, Rodrigo crava a unha na própria pele para extrair sua matéria prima. E ainda manda uma mensagem a um oceano no qual desemboca com certo atraso: alguns homens e o mundo [literário] são casamentos que às vezes acabam bem." (Do prefácio de Tom Correia)
Contos / Literatura Brasileira